TERESINHA DO MENINO JESUS: A santa da Confiança

StaTerezinhaA exemplo de Santa Teresinha, devemos também aprender a colocar a nossa confiança inteiramente em Deus!

Precisávamos de que, com sua graça, encantadora e seu inalterável sorriso, viesse Santa de Lisieux para lembrar-nos o sentido da esperança cristã e repetir-nos que a vida humana é uma conquista de Deus. O homem moderno, preso à sua máquina e mergulhado em sua matéria, não sabe mais erguer o olhar para o céu. Avido somente dos “alimentos terrestres”, não mais experimenta o sabor das coisas do alto. E no entanto, há vinte séculos que a Igreja militante não cessa de cantar no Credo a sua imortal esperança: “Et exspecto vitamventuri saeculi!”, ou seja, “E a vida do mundo que há de vir”, em meio aos combates cotidianos, a Igreja da terra aspira às alegrias da eternidade.

Um dos grandes benefícios da espiritualidade teresiana é precisamente o de ter posto em relevo uma das virtudes cristãs mais dinâmicas e – é forçoso confessá-lo – uma das menos estudadas por nossos mestres espirituais. Ao passo que se detêm na humildade, na mortificação, no espírito de religião, no exame de consciência, etc… Deixam por demais no esquecimento a esperança teologal, essa virtude dos caminhantes que multiplica as forças do homem e o seu impulso para a santidade, assegurando-lhe, a cada instante, o socorro soberanamente eficaz da Onipotência divina. Esquecem que a esperança ocupa, entre as virtudes cristãs, um lugar privilegiado, acima da fé, achando-se intimamente ligada à divina caridade por uma grande afinidade, utilizando a mesma faculdade dominadora, a que une o homem a Deus e o fez tender para Ele com todas as forças: a vontade.

Teresa, a exemplo da Igreja só vivia para o céu, “suspirando incessantemente pela posse do Soberano Bem”, tendendo para “os bens eternos e a conquista da santidade”, sem se deixar deter jamais por nenhum obstáculo. Amparada no Senhor, não retrocedeu jamais, acolhendo sorridente as provações que se acumulavam: obstáculos à sua vocação, incompreensões e oposições de sua vida religiosa e, principalmente, as provas interiores que Deus lhe prodigalizou, no fim, para lhe purificar a fé e a esperança. As testemunhas do processo mostram-se inesgotáveis quando querem expressar, a tal respeito, sua admiração. “Nas dificuldades da vida, sua esperança era invencível”. – “A confiança em Deus tornara-se-lhe como que o sinete especial de sua alma”. – “Era inacessível ao desânimo”.

A Irmã Teresa do Menino Jesus mostrou, em toda circunstância, “uma confiança inabalável, uma confiança infantil, não duvidando jamais do êxito de sua oração. Pedir uma graça e ter a certeza de alcançá-la parecia-lhe perfeitamente natural, pois que se dirigia a um Pai infinitamente bom e Onipotente. Queria ser Santa e contava com Nosso Senhor para atingir esse fim. De que o alcançaria, jamais se lhe apresentou ao espírito a mínima dúvida”. Realmente, a Serva de Deus aspirava a uma alta santidade. Seus pensamentos sobre tal ponto nem sempre foram compreendidos. Vários confessores ou pregadores de retiro chegavam a assustá-la ou a paralisar lhe os transportes: “Meu Padre, dizia ela a um pregador, quero tornar-me santa. Quero amar ao bom Deus tanto quanto S. Teresa!” Replicou ele: “Que orgulho e que presunção! Limite-se a corrigir os defeitos; a não ofender mais ao bom Deus, a fazer cada dia pequenos progressos, e modere seus desejos temerários”. – “Mas, meu Padre, não acho que sejam desejos temerários, pois Nosso Senhor disse: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. O Religioso não se deixou convencer e a Serva de Deus procurava sempre alguém com autoridade para dizer-lhe: Faça-se ao largo e lance as redes”. Encontrou por fim esse enviado de Deus na pessoa do Pe. Alexis, dos Recoletos de Caen”. “Ele restituiu-lhe a paz”. Teresa mesma nos contou, na “História de uma alma”, esse momento tão decisivo para a sua vida interior, e mais particularmente, para a sua vida de abandono.

“No ano seguinte à minha profissão, recebi grandes graças durante o retiro geral. Ordinariamente, são muito penosos para mim os retiros pregados. Dessa vez, não foi assim. Preparar-me com uma fervorosa novena; parecia-me que aguardavam tantos sofrimentos! Dizia-se que o Reverendo Padre tinha mais aptidões para converter os pecadores do que para fazer progredir as almas religiosas. Sou, portanto, uma grande pecadora, pois o bom Deus se serviu desse santo Religioso para me consolar. Eu experimentava então penas interiores de toda espécie e sentia-me incapaz de manifestá-las. E eis que minha alma se expandiu perfeitamente. Fui compreendida de maneira maravilhosa e até adivinhada. O PADRE LANÇOU-ME, DE VELAS ENFUNADAS, SOBRE AS ONDAS DA CONFIANÇA E DO AMOR, que tanto me atraiam, mas sobre as quais não ousava adiantar-me. Disse que minhas faltas não ofendiam ao bom Deus. Esta afirmativa cumulou-me de alegria… Aliás, era justamente o eco de meus íntimos pensamentos. Sim, acreditava, há muito, que o Senhor é mais terno do que qualquer mãe e conheço a fundo mais de um coração de mãe! Sei que toda mãe está sempre pronta a perdoar as pequenas indelicadezas involuntárias de seu filho!” . Que retiro decisivo e libertador! Não, o seu instinto filial não a enganara. Doravante, podia Teresa abandonar-se, com toda a segurança, ao peso de sua graça batismal, a seus privilégios de filha de Deus e impelir “sua confiança até à audiência, em sua Bondade de Pai”. Tranquilizada quanto aos caminhos interiores que seguia, Teresa entregou-se, sem reserva, ao atrativo pessoal de sua alma, deixando desabrochar num total abandono a sua confiança filial para com o bom Deus.

Encarregada de formar as noviças, a jovem mestra levou a peito desenvolver, a seu redor, uma confiança ilimitada na Misericórdia divina. “Parece-me impossível, dizia uma delas, levar mais longe a confiança em Deus. gostava de repetir-nos a máxima de S. João da Cruz: “De Deus, obtém-se tanto quando se espera”. Dizia-me a Irmã Teresa sentir desejos infinitos de amar o bom Deus, de glorificá-lo e de fazê-lo amando, desejos que esperava firmemente ver todos realizados. E dizia também que restringir desejos e esperanças era desconhecer a Bondade infinita de Deus: “Meus desejos infinitos são a minha riqueza. Para mim, realiza-se a palavra de Jesus: “aquele que possui, dar-se-á mais ainda e terá em abundância”. – “Era sobre a confiança em Deus que ela mais insistia em suas conferências do noviciado”. – “Todas as exortações Às noviças, os conselhos que lhes dava em suas penas, as cartas que escrevia aos missionários, são uma constante prédica da confiança em Deus”.

Poderia parecer que a humilhante doença de seu pai lhe arruinasse a confiança na Providência. Foi ocasião de um silencioso e contínuo heroísmo de vários anos. “No decurso dessa dolorosa provação, confessa uma de suas irmãs, foi ela quem nos amparou constantemente com o seu invencível abandono”. Mas foi principalmente no fim de sua vida que essa confiança sofreu os mais temíveis assaltos, sob a ação divina que nela vinha operar as supremas purificações da virtude da esperança. A Irmã Teresa do Menino Jesus nos descreveu, na “História de uma alma”, de maneira ao mesmo tempo simples e dramático, essas terríveis purificações. Após longos anos de uma fé luminosa e tranquila, eis que de repente, numa tarde de Páscoa tudo desapareceu, como num palácio refulgente que se extingue. – “Sonhas com a luz e com uma pátria embalsamada, sonhas com a posse eterna do Criador dessas maravilhas, julgas sair um dia dos nevoeiros onde definhas… Avança… avança. Alegra-te com a morte que te há de dar, não o que esperas, mas uma noite ainda mais profunda: a noite do nada”. E a pobre Teresa não ousava prosseguir: “receava blasfemar”… – O sacerdote que recebeu as confidencia desse período cruciante só mais tarde lhe pode medir toda a extensão e compreender lhe o sentido providencial. Deus, que predestinava Teresa de Lisieux a tornar-se no mundo moderno a Santa da confiança e do abandono, acabava de purificar-lhe a virtude da esperança e de fazer-lhe merecer, por uma heroica fidelidade, todas as graças de abandono que, por seu intermédio, deveriam descer à terra no decurso de sua prodigiosa sobrevivência apostólica.

A própria “Santinha” nos confessa que lhe foram necessários longos anos de lutas íntimas para chegar a tal culminância e nela se estabelecer: “Devia passar ainda por muitos cadinhos antes de atingir as praias da paz, antes de saborear os deliciosos frutos do abandono total e do perfeito amor”.

Tal confiança vem de Deus. Neste caso, nada podem as qualidades pessoais e os recursos naturais do homem. Como poderia esquecê-lo “Teresinha”? Conhecia por demais a sua fraqueza de criança para se amparar nas próprias forças. “Em tudo, contava exclusivamente com o socorro do bom Deus”. – “Sinto-me extremamente miserável, mas com isso não diminui a minha confiança, ao contrário. Aliás, a palavra “miserável” não é justa, pois estou rica de todos os tesouros divinos”. – “Sua esperança em Deus não conheceu desfalecimento algum, nem mesmo quando sua alma se viu mergulhada nas mais espessas trevas, quando suas preces não eram atendidas, quando tudo sucedia precisamente ao contrário do que desejava”. – “Mais depressa se cansará o bom Deus de provar-me que eu de confiar n’Ele”, disse-me certo dia. Ainda que me matasse, n’Ele esperaria”.

Quando Teresa não se via atendida, depois de fervorosas preces ao bom Deus ou aos Santos, agradecia-lhes mesmo assim, dizendo: “Querem ver até onde levarei a minha esperança”. “O bom Deus quer que me abandone como uma criança bem pequenina que não se inquieta com o seu futuro”. “Ele mede sempre os seus dons pela nossa confiança”. “O Evangelho dos operários da última hora – que receberam salário igual ao dos outros – arrebatava-a: “Considerem, dizia ela. Se nos abandonarmos, se colocarmos a nossa confiança no bom Deus, fazendo todos os nossos pequeninos esforços, e tudo esperando de sua Misericórdia, seremos recompensados e receberemos tanto quanto os maiores santos”. – Admirava a atitude da Virgem Santíssima em Canaã, murmurando simplesmente ao Filho: Eles não tem mais vinho”, e depois entregando-Se inteiramente a Ele. Incomparável modelo abandono!

Finalmente, em Santa Teresinha de Lisieux, brilha, em máximo grau, a inabalável certeza da esperança cristã que se baseia, não nas riquezas pessoais do homem, mas na Onipotência de Deus e na soberana eficácia dos meios de salvação que sua Providência prepara para cada um de nós. Não é consigo mesma que conta Teresa: “Não me firmo em meus próprios pensamentos, mas unicamente em Deus. Sei, por demais, quanto sou fraca”. – Acreditava, porém, que “não se deve temer desejar demais, pedir demais ao bom Deus. é preciso dizer-Lhe: “Bem sei que jamais serei digna do que espero, mas entendo-Vos a mão como uma pequenina mendiga e estou certa de que me atendereis plenamente; sois tão Bom!” – Tal certeza tornava-a magnânima; pois secreta e profunda afinidade une a esperança teologal com todas as virtudes anexas à fortaleza: “Não tenho medo algum dos últimos combates, nem dos sofrimentos da doença, por grandes que sejam. O bom Deus me auxiliou e conduziu pela mão, desde a minha mais tenra infância. Conto com Ele. Tenho a certeza de que continuará a auxiliar-me até o fim. Eu bem poderia sofrer em extremo, mas estou certa de que nunca será demais”.

As preferências dos santos pelos outros santos são para nós preciosas indicações, particularmente reveladoras de suas próprias tendências e de sua psicologia profunda. Ora, conhecemos o culto especial de Santa Teresa do Menino Jesus a S. Cecília, desde a sua peregrinação a Roma: “Antes dessa viagem, não tinha a essa Santa nenhuma devoção particular. Visitando, porém, a sua casa, o lugar de seu martírio, ouvindo-a proclamada “rainha da harmonia” por causa do virginal cântico que entoou no fundo de seu coração, sentiu por ela mais devoção: uma ternura de amiga. Tornou-se a Santa de minha predileção, a minha íntima confidente. Nela, o que mais me arrebatava, era o seu abandono, a sua ilimitada confiança, que a tornaram capaz de virginizar almas que jamais tinham desejado senão as alegrias da vida presente”.Após vários anos de vida religiosa, a Irmã Teresa do Menino Jesus voltava ao assunto, com os mesmo entusiasmos em uma carta a Celina: “Não posso pensar, sem arrebatamento, mergulhada no seio de todos os perigos, no momento de se unir a um jovem pagão que só respira o amor profano, parece-me que deveria ter tremido e chorado… mas não. “Ouvindo o som dos instrumentos que celebravam suas núpcias, Cecília cantava no seu coração”. Que abandono! Não teme. Ela sabe que Jesus tem obrigação de guarda-la, de proteger sua virgindade! Por isso mesmo, que recompensa!… Oh! Quanto é bela a geração das almas virgens!” Estas frases nos pintam o seu próprio retrato. Teresa de Lisieux foi também a Santa da confiança e do total abandono.

Do livro: “Santa Teresinha de Lisieux, um caminho todo novo”. M.M. Philipon. Ed.Cultor de Livros.

Fonte: Editora Cléofas

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