VOCÊ CONFIA EM DEUS? - Parte II

Mas quanto você confia em Deus?


Continuação do post: Você confia em Deus? Parte I

Firmeza inabalável é, pois, a primeira característica da confiança.
A segunda qualidade dessa virtude é ainda mais perfeita.
Leva o homem a não contar mais com o auxílio das criaturas; quer seja auxílio tirado de si mesmo, do seu espírito, do seu critério, da sua ciência, do seu jeito, das próprias riquezas, crédito, amigos, parentes ou outra qualquer coisa sua, quer sejam socorros que, por acaso, possa esperar de outrem: Reis, Príncipes, e, geralmente, de qualquer criatura; Porque sente e conhece a fraqueza e inanidade de todo amparo humano. Considera-os o que são realmente, e como Santa Teresa tinha razão de chamá-los ramos secos de genebra que se quebram ao serem carregados”.

Mas essa teoria, dirão, não procederá de um falso misticismo?… Não conduzirá ao fatalismo ou, pelo menos, a uma perigosa passividade?

Para que multiplicar esforços no intuito de vencer dificuldades, se todos os apoios têm que se quebrar nas nossas mãos? Cruzemos os braços esperando a divina intervenção!…
Não, Deus não quer que adormeçamos na inércia; Ele exige que O imitemos. Sua perfeita atividade não tem limites: Ele é o ato puro.

Devemos, pois, agir; mas só dEle devemos esperar a eficácia da nossa ação. “Ajuda-te que o Céu te ajudará”. Eis a economia do plano providencial.

A postos! Trabalhemos com afinco, mas espírito e coração voltados para o alto. “Em vão vos levantareis antes da aurora”, diz a Escritura, se o Senhor não vos ajudar, nada conseguireis.

Com efeito, nossa impotência é radical. “Sem Mim, nada podereis”, diz o Salvador.

Na ordem sobrenatural, esta impotência é absoluta. Atendei bem ao ensino dos teólogos.

Sem a graça o homem não pode observar por muito tempo, e na sua totalidade, os mandamentos de Deus. Sem a graça não pode resistir a todas as tentações, por vezes tão violentas, que o assaltam.
Sem a graça não podemos ter um bom pensamento, fazer mesmo a mais curta oração; sem ela nem sequer poderemos invocar com piedade o nome de Jesus.

Tudo que fizermos na ordem sobrenatural nos vem unicamente de Deus. Na ordem natural, mesmo, é ainda Deus que nos dá a vitória.

São Pedro havia trabalhado a noite toda; era resistente na labuta; conhecia a fundo os segredos do seu ofício tão duro. No entanto, em vão havia percorrido as ondas mansas do lago – nada havia pescado!

Recebe, porém, o Mestre na barca; lança a rede em nome do Salvador; – tem logo uma pesca miraculosa e as malhas de rede se rompem, tal o número de peixes…

Seguindo o exemplo do Apóstolo, lancemos a rede, com paciência incansável, mas só de Nosso Senhor esperemos a pesca milagrosa.
Em tudo o que fizerdes, dizia Santo Inácio de Loyola, eis a regra das regras a seguir: confiai em Deus, agindo, entretanto, como se o êxito de cada ação dependesse unicamente de vós e nada de Deus; mas, empregando assim os vossos esforços para esse bom resultado, não conteo com eles, e procedei como se tudo fosse feito por Deus só e nada por vós”.

A confiança perfeita
Não desanimar quando se dissipa a miragem das esperanças humanas… não contar senão com o auxílio do Céu, não será já altíssima virtude?…

A asa vigorosa da verdadeira confiança atira-se, no entanto, para regiões ainda mais sublimes. A elas chega por uma espécie de requinte de heroísmo; atinge então o mais alto grau de sua perfeição.

Esse grau consiste em regozijar-se a alma quando se vê balda de todo apoio humano, abandonada de parentes, de amigos, de todas as criaturas que não querem ou não podem socorrê-la:
Que não podem dar-lhe conselho nem servi-la com seu talento ou o seu crédito; a quem nenhum meio resta de vir-lhe em auxílio… Que sabedoria profunda denota semelhante alegria em circunstâncias tão cruéis!…

Para poder entoar o cântico da Aleluia sob golpes que, naturalmente, deveriam quebrar a nossa energia, é preciso conhecer a fundo o Coração de Nosso Senhor; é preciso crer perdidamente na sua piedade misericordiosa e na sua bondade onipotente, é preciso ter a absoluta certeza de que Ele escolhe, para sua intervenção, a hora das situações desesperadoras…

Depois de convertido, São Francisco de Assis desprezou os sonhos de glória que antes o haviam deslumbrado. Fugia às reuniões mundanas, retirava-se na floresta para, aí, entregar-se longamente à oração; dava esmolas generosamente…

Esta mudança desagradou a seu pai, que arrastou o filho ante a autoridade diocesana, acusando-o de dissipar-lhe os bens. Então, em presença do Bispo maravilhado, Francisco renuncia à herança paterna; tira até as roupas que lhe vinham da família; despoja-se de tudo!…

E, vibrando de uma felicidade sobre-humana, exclama: “Agora sim, ó meu Deus, poderei chamar-Vos mais verdadeiramente do que nunca: Nosso Pai que estais no Céu!”

Eis aí como agem os Santos.
Almas feridas pelo infortúnio, não murmureis no abandono a que vos achais reduzidas. Deus não vos pede uma alegria sensível, impossível à nossa fraqueza. Somente, reanimai a vossa fé, tende coragem, e, segundo a expressão cara a São Francisco de Sales, na “fina ponta da alma” esforçai-vos por ter alegria.

A Providência acaba de vos dar o sinal certo, pelo qual se reconhece a sua hora: ela vos privou de todo apoio. É o momento de resistir à inquietação da natureza. Chegaste ao ponto de ofício interior em que se deve cantar o Magnificat e fazer fumegar o incenso… “Regozijai-vos no Senhor; eu vos repito, regozijai-vos: o Senhor está perto!”.

Segui este conselho e vos dareis bem. Se o Mestre Divino não Se deixasse tocar por tamanha confiança, não seria Aquele que os Evangelhos nos mostram tão compassivo, Aquele que a visão dos nossos sofrimentos fazia estremecer de dolorosa emoção.

Nosso Senhor dizia a uma alma privilegiada:
Se sou bom para todos, sou muito bom para os que confiam em Mim. Sabes quais são as almas que mais aproveitam de minha bondade? As que mais esperam… As almas confiantes roubam as minhas graças!…”.
 
Fonte: retirado de “O Livro da Confiança” do Rev. Pe. Thomas de Saint-Laurent.
































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