DEUS É O NOSSO DIVINO PROVEDOR–Parte I

Confie a Ele todas as necessidades!

O Profeta Elias recebe o pão de um corvo; é a Divina Providência dando-lhe o que precisa.
A confiança é uma esperança heroica;
Não difere da esperança comum a todos os fieis senão pelo seu grau de perfeição. Ela é, pois, exercida sobre os mesmos objetos que aquela virtude, mas por meio de atos mais intensos
e vibrantes.
Com a esperança ordinária, a confiança espera do Pai celeste todos os socorros que são necessários para se viver santamente aqui na terra e merecer a bem-aventurança do Paraíso.
Ela espera, primeiramente, os bens temporais, na medida em que estes nos podem conduzir ao fim último. Nada mais lógico: não podemos ir à conquista do Céu à maneira dos puros espíritos; somos compostos de corpo e de alma.
Este corpo que o Criador formou pelas suas mãos adoráveis é o companheiro inseparável de nossa existência terrestre; e o será ainda da nossa sorte eterna depois da ressurreição geral. Não podemos prescindir da sua assistência na luta pela conquista da vida bem-aventurada.
Ora, para sustentar-se, para cumprir plenamente a sua tarefa, o corpo tem múltiplas exigências. Essas exigências, é preciso que a Providência as satisfaça; e ela o faz magnificamente.
Deus Se encarrega de prover às nossas necessidades… e cuida delas generosamente. Segue-nos com olhar vigilante e não nos deixa na indulgência.
Em meio às dificuldades, mesmo angustiantes, não nos devemos perturbar; Com plena certeza esperemos das mãos divinas o que é preciso para o sustento da nossa vida.
Eu vos digo, declara o Salvador, não penseis com angústia em como encontrar os alimentos para sustentar-vos e as roupas para vestir-vos. Não vale a vida mais que o alimento, e o corpo mais que a vestimenta?
Vede os pássaros do céu; não semeiam, não colhem, não juntam nada nos granéis; e o Pai celeste os sustenta… Não valereis vós muito mais do que eles? Quanto as roupas, por que afligir-vos? Vede como crescem os lírios do campo; não trabalham, não fiam…
No entanto, asseguro-vos, nem Salomão, com toda sua pompa, jamais se vestiu como eles. Se Deus veste assim, com magnificência, a pobre planta dos campos, que hoje floresce e amanhã será jogada ao fogo, com que cuidado não vos há Ele de cobrir, homens de pouca fé?”.
“Não vos inquieteis, pois. Não penseis: que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Não imiteis os pagãos que com isso se preocupam. Vosso Pai sabe e conhece as vossas necessidades”.
“Procurai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será dado por acréscimo”.
Não basta passar os olhos de relance sobre esse discurso de Nosso Senhor. Importa que nele fixemos longamente a atenção, para procurarmos a sua significação profunda e nos penetrarmos bem da sua doutrina.
Ele faz segundo a situação de cada um
Deveremos tomar essas palavras ao pé da letra, e compreendê-las no seu sentido mais restrito? Dar-nos-á Deus somente o estrito necessário: o pedaço de pão seco, o copo d’água, a nesga de tecido de que a nossa miséria precisa urgentemente?
Não, o Pai celeste não trata os filhos com avarenta parcimônia.
Pensar assim, seria blasfemar contra a Divina Bondade; seria, se assim posso dizer, desconhecer os seus hábitos. No exercício da sua providência, como na sua obra criadora, Deus usa, com efeito, de grande prodigalidade.
Quando lança os mundos através dos espaços, tira do nada os milhares de astros. Na Via Láctea, essa plaga imensa das noites luminosas, cada grão de areia não é um mundo?
Quando alimenta os pássaros, convida-os à mesa opulentíssima da natureza. Oferece-lhes o trigo que enche as espigas, os grãos de todas as espécies que nas plantas amadurecem, os frutos que o outono doura nos sulcos da charrua. Que lista variada ao infinito para a alimentação desses humildes bichinhos!
Quando cria os vegetais, com que graça enfeita as suas flores! Lavra-lhes a corola como se fossem joias preciosas, em seus cálices lança deliciosos perfumes, tece-lhes as pétalas de uma seda tão brilhante e delicada, que os artifícios da indústria nunca lhes igualarão a beleza.
E, então, tratando-se do homem, a sua obra-prima, o irmão adotivo do seu Verbo encarnado, não haveria Deus de Se mostrar de generosidade
ainda maior?
Consideremos, pois, como verdade indiscutível que a Providência provê largamente às necessidades temporais do homem.
Sem dúvida, haverá sempre na terra ricos e pobres.
Enquanto uns vivem na abundância, outros devem trabalhar e observar uma sábia economia. O Pai celeste, porém, fornece, a todos, meios de viver com certo bem estar, segundo a condição em que os colocou.
Voltemos à comparação que Jesus emprega. Deus vestiu o lírio esplendidamente, mas essa veste branca e perfumada era reclamada pela natureza do lírio. Mais modestamente foi trajada a violeta; Deus deu-lhe, porém, o que convinha à sua natureza particular. E essas duas flores desabrocharam docemente ao sol, sem que nada lhes falte.
Assim Deus faz com os homens. Colocou a uns nas classes mais altas da sociedade; pôs outros em condições menos brilhantes: a uns e a outros dá, no entanto, o necessário para dignamente manterem a sua posição.
Levanta-se aí uma objeção, a respeito da instabilidade das condições sociais. Na crise presente, não será mais fácil decair do que elevar-se ou mesmo manter-se no mesmo nível social?
Sem dúvida. Mas a Providência proporciona exatamente o auxílio às necessidades de cada um: para os grandes males manda os grandes remédios.
O que as catástrofes econômicas nos tiram, podemos readquirir com a nossa indústria ou trabalho.
Nos casos muito raros em que a atividade própria se vê de todo reduzida à impossibilidade, temos, então, o direito de esperar de Deus uma intervenção excepcional.
Geralmente, pelo menos assim penso eu, Deus não faz decaídos. Ele quer, pelo contrário, que nos desenvolvamos, que subamos, que cresçamos com prudência.
Se, às vezes, permite uma decadência de nível social, não a quer senão por uma vontade posterior à ação do nosso livre arbítrio. O mais frequente é provir tal decadência de faltas nossas, pessoais ou hereditárias. É comumente consequência natural da preguiça, da prodigalidade, de paixões várias.
E, ainda assim, pode o homem, mesmo decaído, levantar-se e, com o auxílio da Providência, reconquistar, pelos seus esforços, a situação perdida.

Fonte: retirado de “O Livro da Confiança” do Rev. Pe. Thomas de Saint-Laurent.

Postagens mais visitadas