Aqui está–TUDO O QUE VOCÊ PRECISA MEDITAR SOBRE O NATAL - Parte II

Marcos Aurélio Vieira


Pode-se ainda imaginar Nossa Senhora na difícil posição de uma mãe que está com uma criança prestes a nascer, montada num burrico; São José andando a pé, e que vão bater de casa em casa pedindo hospedagem.

Não havia ninguém que quisesse hospedá-los porque a cidade estava cheia, mas também porque eles eram gente sem importância, gente decaída, “bilhete branco da loteria da vida” que ninguém quer, a não ser para amarrotar e jogar no lixo.

Não tendo onde ficar, foram para uma gruta onde se abrigavam os animais. Então esse casal foi para uma “residência” de bicho.
E lá se dá, na mais estrita intimidade, porque ninguém está lá, ninguém assistiu a essa cena, o fato mais importante da História até então: o Filho de Deus, feito carne no seio puríssimo de Nossa Senhora, veio ao mundo!

Nesta situação, podemos então compreender tudo quanto há na alegria de Natal. É uma alegria feita de contraste: uma grande intimidade, uma grande pobreza, mas uma grande elevação! E sobre essa miséria desce uma riqueza sem nome, como nada é rico na terra: o Filho de Deus feito homem, que é posto numa manjedoura onde estão os bichos.
E essa glória que ninguém conhece, que ninguém sabe dar valor, a não ser aquele casal, aquela glória está ali representada no estado de um menino débil, de um menino frágil, que chora, que tem fome e que estende os bracinhos para a mãe.

É um contraste com o esplendor. Ele ao mesmo tempo é adorado no Céu por todos os anjos num coro magnífico; o céu na sua maior festa, na maior festa até então realizada: querubins, serafins, anjos e arcanjos com brilho extraordinário dando glória a Deus pelo Natal que se dava.

Esta glória impregnava a gruta discretamente, porque era preciso que os de fora não notassem; que só as almas de fé sentissem, que só na intimidade isso se percebesse, e a maior alma de toda História, com exceção de Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, que Ela só valia mais do que todas as almas que houve antes dela, que havia no tempo dEla, que haverá até o fim do mundo; vale mais do que todos os anjos; aquela alma ali reclinada, contemplando.

E perto dEla, a uma pequena distância, rezando para Ela e rezando para o Menino Jesus, o homem que era um mero carpinteiro, príncipe decadente, esmagado, triturado pela História e pelos castigos merecidos que se tinham abatido sobre seus antepassados.

Ele teve essa honra que absolutamente ninguém teve: foi escolhido para esposo dEla, para que o seu nome glorioso servisse de rótulo para o próprio Filho de Deus.

É debaixo de um invólucro de miséria e de pobreza que nasce a maior de todas as glórias!

E quando Nossa Senhora via, ou São José, aquele Menino chorar, aquele Menino dar a entender que queria alguma coisa, que estava com frio e que Nossa Senhora O vestia com as roupinhas que tinha preparado para Ele, Ela sabia que era o próprio Deus, no mais alto dos céus, formando uma só pessoa, embora em duas naturezas.
Com aquela criança que era o Deus mais glorioso, o Deus cheio de glória dos céus, e que era o Criador dEla, que abria os braços para Ela e o dono de todo o universo que chorava com vontade de receber um pouco de leite e um pouco de roupa para se cobrir.
A quietude, o silêncio e o recolhimento…

Ele nasceu à meia-noite… E o que seria a meia-noite de um lugar ermo daquelas vastidões, num mundo antigo onde tão pouca coisa se movia: o silêncio e o abandono.

Na cidade de Belém, próxima, as pessoas dormiam confortavelmente nas suas camas, todo mundo descansava; fora até o gado dormia quando o Menino Jesus nasceu. Tudo estava vazio, tudo estava só, tudo estava escuro…
Mas dentro daquela gruta havia aquele casal único, havia uma luz bruxuleante, pequena para se ver o que se fazia ali dentro. Mas havia um Menino que era o rei de todos os século: era o próprio Deus Encarnado!

Compreende-se facilmente aquilo que faz parte da alegria do Natal. É o contrário da Páscoa. Páscoa é uma grande vitória triunfal que se comunica a todo mundo.

O Natal, não: é um acontecimento divino, mas que se realiza aos olhos de poucos, em que vemos a maior das honras, a maior importância dos fatos, que se dá às escondidas, e que ela toda reside num Menino fraco.

De maneira que quem contempla aquela cena ao mesmo tempo fica com vontade de se recolher, de ficar quieto, como o Natal também foi feito na quietude e no silêncio. De fazer pouco, de se comunicar pouco, de mais sentir o Natal dentro de si do que de proclamar com grandes sons a existência do Natal.

Fica-se com um misto de reverência enternecida, como quem nem sabe como agradecer tanta honra de tocar de perto em tão alto mistério, de ter a natureza humana que o Verbo de Deus assumiu voluntariamente.

Ao mesmo tempo que tem uma espécie de pena de Deus, de comiseração de Deus, porque Deus consentiu em fazer-se tão pequeno. Não sabendo como agradecer que Deus tenha querido fazer-se tão pequeno, não sabendo como exprimir o respeito tão grande, que chega ao temor, e a ternura tão profunda que chega quase a liquefazer a alma.

Então, em nossa alma fica numa suma veneração, numa suma adoração, suma ternura, com a noção de uma honra perto da qual não se é nada e ao mesmo tempo também com a noção de uma humilhação perto da qual qualquer pessoa é qualquer coisa… 

Isto explica o que há de sentimentos no Natal. E por que não se imagina um Natal que não seja de noite. A luz do Natal é uma luz tão discreta que ela pede a noite para brilhar dentro dela.
(Continua…)

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