Aqui está – TUDO O QUE VOCÊ PRECISA MEDITAR SOBRE O NATAL – Parte III

Marcos Aurélio Vieira


A alegria de Natal é uma alegria tão delicada que ela teme em expandir inteiramente, de medo de perder a sua delicadeza e sua intimidade.

Esta é umas das genialidades do Stille nacht (Noite Feliz), a bela canção composta por um simples mestre escola alemão do século XIX, mas que passou a ser a canção de Natal de todos os séculos. Está nisso: é uma música que canta na surdina. Ela é quase feita para não acordar e não assustar o Menino.

Dir-se-ia que o coro canta porque quase não consegue deixar de cantar de tão emocionado que está, mas canta baixinho para não perturbar o Menino, e para não perturbar a canção indizível e baixinha com que Nossa Senhora está embalando a seu próprio Deus. São mil delicadezas que vibram dessa música.
Por outro lado, a gente compreende porque há tanta ternura no Natal. Embora nem todos percebam, há uma espécie de pena no Natal. Uma espécie de compaixão em relação Aquele que está sendo celebrado: ao mesmo tempo é tão pequeno esse Deus infinito; mas é tão infinito esse Deus pequeno…

O que dizer de uma coisa dessas? Foram necessários 19 séculos de meditação para que desabrochasse, como uma flor dentro da Igreja Católica esta canção, em que afinal a meditação de Natal se sentisse completamente realizada.

Antigamente o Natal era precedido por uma Novena em honra de Nossa Senhora do Ó. “Ó” por quê? Porque em cada dia se cantava uma antífona que começava por “Ó”: Ó, rei; Ó, Emanuel;
Ó, Salvador…

São as alegrias de Nossa Senhora nos últimos dias que precederam ao nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ela era um sacrário vivo, quando o Menino Jesus estava dentro dEla, com o seu corpo já completo e pensando, e Ela  sentia dentro de si o movimento e a oração do Filho de Deus, como de dentro do mais  prodigioso dos sacrários.
Rezando como Nosso Senhor reza dentro do tabernáculo no Santíssimo Sacramento.

Daí aquela pressa de Nossa Senhora que Ele nascesse, pressa de todos os profetas de todos os tempos, de que nascesse afinal Aquele que haveria de pôr as coisas em ordem, e que haveria de esmagar o demônio e os  efeitos do pecado original.

As exclamações “ó vinde, ó Emanuel, ó Salvador, ó rei”, etc. são os pedidos desde Adão, que quando pecou e depois recebeu a revelação de que viria o Salvador, viveu e morreu na esperança de que o Salvador viesse, e na alegria penitencial de ser antepassado do Salvador, até o momento de Nossa Senhora.

Todas as esperas de todos os séculos se concentravam naquele momento em que Ele nasceu.
“Foi nos dado um Menino”

Dessa forma, quando a civilização ainda se podia dizer católica, em todas os lugares havia uma expectativa de Natal. Essa expectativa de Natal era ao mesmo tempo a pressa da vinda do Menino, mas era também a pressa da vinda da festa de Natal.

E assim como o Menino Jesus era oculto antes de nascer, assim também a festa de Natal se preparava no mistério para as crianças.

Os mais velhos confabulavam entre si e combinavam de que tamanho seria a Árvore de Natal, que enfeites se poriam nela, que mesas de doces se preparariam para a criançada, o que teria de diferente do ano anterior, e como é que seria a introdução do Presépio para ser colocado aos pés da Árvore de Natal.

E as crianças não podiam assistir a conversa. Então, quando começava a conversa sobre o Natal, “fora criançada”. Mas a criançada sentia que era uma grande festa de alegria também para o corpo, em que elas eram especialmente acariciadas.

E portanto era uma festa da alma, uma festa religiosa, em que vinham graças especiais de Deus. Era como se o Menino Jesus nascesse. Havia, então, uma espécie de expectativa, a vontade de pegar as últimas palavras. Seja como for, era a alegria que começava com o presente.

Essa alegria dava uma sensação indizível de que “foi-nos dado um menino” (Puer natus estnobis), que uma grande alegria tinha nascido no céu.

O menino dado era o Menino Jesus e que ali se realizava algo de único que era como que arepetição do Natal, e que todas as graças do Natal viriam para nós também. Era estar vivendo as graças do Natal. Era estar sentido as graças de Natal.

A tal ponto que até os ateus olhavam para os católicos – sobretudo para as crianças – com um certo respeito e uma certa ternura, vendo repetir-se nelas uma alegria que eles, pela impiedade, tinham estraçalhado.

Essa alegria como as do Natal de outrora, ainda hoje, no ano de 2014, pode ser vista, porém como quem olha através de um vidro embaçado. É um vidro com graus de embaçamento diferentes e com algumas transparências reais muito tênues. 

O que é esse “vidro”? É esse Natal que refletia um pouquinho da tradição antiga em alguns pontos muito vagos e em outros quase nada.
Peçamos a Nossa Senhora para desembaciar, em nós, um pouco desse “vidro”, e assim poderemos festejar, junto com Ela, a nossa noite de Natal.

Postagens mais visitadas