NÃO SE PODE CANENIZAR UM PARA IGNORANDO SEU PONTIFICADO

"No dia 1º de abril de 2011, o Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, esclareceu o motivo para a beatificação de João Paulo II. O Catholic News Service reportou o seguinte:
O Papa João Paulo II está sendo beatificado não por causa de seu impacto na história ou na Igreja Católica, mas por causa do modo como viveu as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade, disse o Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos...
O Cardeal Amato disse que o processo de santidade é uma das áreas da vida da igreja onde o consenso dos membros da igreja, tecnicamente o "sensus fidelium" ("senso dos fiéis"), realmente importa. "Desde o dia de sua morte em 2 de abril de 2005, o povo de Deus começou a proclamar sua santidade", e centenas, quando não milhares, visitam seu túmulo todos os dias, disse o cardeal. Um outro sinal é o número de biografias publicadas sobre ele e o número de suas obras que são traduzidas e publicadas...
O Cardeal Amato disse, "a pressão do público e da mídia não perturbou o processo, mas o ajudou" porque foi mais um sinal da difundida fama de santidade do Papa João Paulo, que é algo de que a igreja exige provas antes de se movimentar para beatificar alguém...

[Joaquin Navarro-Valls, que trabalhou como porta-voz do Vaticano sob o Papa João Paulo], um membro da Opus Dei, disse ter tido a bênção de conhecer pessoalmente três santos: Josemaria Escriva de Balaguer, fundador da Opus Dei; a Beata Teresa de Kolkata; e o Papa João Paulo. O que todos os três têm em comum, disse, era um bom senso de humor, um sorriso fácil e uma habilidade para rir. Quanto aos que questionam beatificar o Papa João Paulo apenas seis anos após sua morte e aqueles que dizem que a explosão do escândalo dos abusos sexuais dos clérigos durante seu pontificado lança uma sombra escura sobre seu reinado, Navarro-Valls disse que as pessoas devem se lembrar de que a beatificação não é um juízo sobre um pontificado, mas sobre a santidade pessoal do candidato. A pergunta chave, disse, é: "Temos certeza de que ele viveu as virtudes cristãs em grau heróico?"
Desta forma, o Cardeal Amato e o ex-porta-voz de João Paulo II, Navarro-Valls, fazem a inédita afirmação de que a Igreja pode beatificar, e portanto canonizar, um papa baseando-se unicamente na exibição de virtude em sua vida pessoal, sem nem mesmo considerar seu longo pontificado de quase três décadas. Como todos podem ver, a idéia é estapafúrdia. Os candidatos à canonização formal sempre foram julgados pelas virtudes heróicas de suas vidas como um todo. Isso vale especialmente para os papas, pois seus pontificados são parte integral de suas vidas como católicos.
Sendo assim, João Paulo II verdadeiramente viveu de modo heróico as virtudes católicas da fé, esperança e caridade em seu pontificado? Assis I e II, rezar com animistas no Togo e pedir a São João Batista que proteja o Islã mostram um exercício heróico da virtude da fé? Pelo contrário, a virtude católica da fé proibiria essas coisas em razão do Primeiro Mandamento.
Em relação à virtude da esperança, é a esperança de que, se nós como católicos cooperarmos com a graça, salvaremos nossas almas. Mas como pode alguém dizer que João Paulo II exibiu heroicamente essa virtude, quando pelas palavras e atos de seu pontificado ele consistentemente deu a aparência da esperança de que não-católicos possam ser salvos por meio de suas próprias religiões falsas? Também a virtude católica da Esperança presume a possibilidade de ir para o inferno, do contrário não haveria qualquer necessidade de esperança. Mas como João Paulo II questiona até se existe alguma alma humana no inferno, como pode alguém dizer que ele exibiu a virtude da esperança em grau heróico?
Também a virtude católica da caridade exigiria que um papa corrigisse e disciplinasse inúmeros prelados e sacerdotes que disseminassem heresia e erro na Igreja. Pelo contrário, o único prelado notável que João Paulo II disciplinou durante seu pontificado foi o Arcebispo Lefebvre. Da mesma forma, a virtude da caridade demanda a correção do abuso litúrgico geral por amor a Deus, que merece a adoração correta, por amor às almas dos sacerdotes que cometem esses sacrilégios, assim como por amor às almas dos fiéis que foram constantemente escandalizados com tais atos. Em vez disso, embora João Paulo II tenha pedido desculpas pelos abusos litúrgicos, ele pouco ou nada fez para detê-los.
Como resposta, alguns lembraram São Celestino V como um papa que foi pessoalmente santo mas não conseguiu ter um pontificado de sucesso. Mas os casos de João Paulo II e São Celestino são completamente diferentes. Em primeiro lugar, Celestino só foi papa por seis meses. Em segundo, embora a santidade heróica e as severas penitências de Celestino como monge sejam indisputáveis, ele simplesmente não tinha qualquer experiência que fosse no governo da Igreja. Devido a sua ingenuidade ele provou ser um administrador terrível pelos padrões do mundo. Mas nunca no decurso de seu pontificado Celestino deixou de exibir qualquer virtude católica, muito menos chegou a participar de atos públicos que dariam razão ao questionamento dessa virtude.
De fato, é impossível dividir a pessoa única de João Paulo em duas entidades separadas e distintas para fins de canonização. A Igreja não pode canonizar a parte de João Paulo II que alguns dizem ter exibido virtudes heróicas em privado, enquanto ignora a consistente falta ou mesmo oposição daquelas virtudes ao longo de um pontificado de vinte e sete anos."
(Peter Crenshaw, Can the Church Canonize a Pope While Ignoring His Papacy?)

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