PARA A QUARESMA: - Parte III

Leia esta importantíssima reflexão sobre a Crucifixão de Nosso Senhor

Rev. Pe. Adolphe Tanquerey

Continuação do post: Para a Quaresma: - Parte II

Crucificado por volta do meio dia, Jesus expirou por volta das três horas da tarde.
“Imediatamente, o véu do templo rasgou-se de alto a baixo, em duas partes; a terra tremeu, os rochedos se fenderam, os túmulos se abriram, e muitos corpos de santos ressuscitaram” (Mt 27, 51 – 52).
Ao pé da cruz, o centurião, vendo a terra tremer sob seu pés, exclama: “Verdadeiramente este homem era um justo, era o Filho de Deus!” (Mt 27, 54; Lc 23, 47).
Para que o seu corpo e o dos dois outros supliciados não ficassem na cruz durante a Páscoa, os judeus pediram a Pilatos que mandassem quebrar as pernas dos condenados, a fim de que morressem por asfixia e pudessem ser retirados mais cedo. Foi o que fizeram com os dois ladrões.
Quando chegaram a Jesus, porém, este havia acabado de expirar; para assegurar-se de que estava morto, um dos soldados perfurou-lhe o lado direito com a lança. São João que estava aos pés da cruz, viu correr de seu peito sangue e água (Jo 19, 34).
Os Padres da Igreja assim explicam esse mistério: a água representava o batismo, e o sangue, a Eucaristia, esses dois grandes sacramentos dos quais o primeiro nos faz nascer para a vida da graça, e o segundo, depois de a ter alimentado, serve de viático ao cristão em sua passagem do tempo à eternidade.
Recolhamo-nos um momento diante do Salvador na cruz, antes que seu corpo seja depositado no sepulcro. A santa Liturgia nos convida a contemplar esse grande amor por nós que transparece em toda a sua fisionomia, e que nos convida a amá-lo por nossa vez.
Sua cabeça, ainda coroada de espinhos, inclina-se para nós para perdoar nossas faltas e nos dar o beijo de paz e de reconciliação.
Suas mãos, que por nossos pecados, cravamos na cruz, estão à nossa espera para nos apertar contra o nosso peito.
Seu coração, que nossas ingratidões tantas vezes transpassaram, está aberto para nos convidar a buscar nele uma faísca desse fogo divino que não cessa de consumi-lo; por toda a sua atitude, ele nos diz: “Meu filho, dá-me teu coração!”.
Iremos nos recusar-lho, esse pobre coração que tantas vezes se prendeu a afeições humanas, e que, ao invés de nela encontrar as consolações desejadas, foi por elas machucado e talvez manchado?
Recusaremos nosso coração àquele que sofreu e morreu por nós?
Digamos, antes, com um piedoso autor da Idade Média, um dos discípulos de São Bernardo:
“Eu te saúdo, Salvador do mundo, eu te saúdo, amado Jesus… Beijo com amor os pregos de teus pés, as feridas cruéis e as marcas dolorosas… Faz com que se gravem em meu coração as tuas rubras chagas e tuas feridas tão profundas… Manso Jesus, bom Deus, eu clamo a ti, eu, tão pecador. Mostra-te misericordioso para comigo, e, embora eu seja indigno, não me afaste de teus pés sagrados”.
“Do alto dessa cruz, olha para mim aqui embaixo, ó meu bem amado! Atraí-me para ti, dize-me claramente: eu te curo, eu te perdoo”.
“Eis que, em meu amor por ti, eu te abraço corando… tu sabes por quê…”
“Que minhas ações não te ofendam; sujo e doente como estou, gostaria que teu sangue, que corre por toda parte, me lavasse e me curasse, deixando-me sem mancha.”
“Do fundo do meu coração eu clamo a ti, manso Coração, pois te amo; inclina-te para o meu coração, para que ele possa unir-se a ti, coração a coração”.
É assim que podemos tentar responder ao amor de Jesus por nós.
Ele nos ensina que devemos reparar os nossos pecados
Mas não nos esqueçamos de que se, com sua agonia, ele nos ensina a detestar nossos pecados, e, com sua condenação, a confessá-los humildemente, com sua imolação ele nos mostra como devemos expiá-los e repará-los.
Ao percorrer a via dolorosa que ele nos traçou, não receemos carregar com valentia a nossa cruz, essa cruz de cada dia que ele coloca em nossos ombros para associar-nos à sua expiação.
Estendamo-nos amorosamente sobre essa cruz, ao lado dele, e deixemo-nos crucificar nocumprimento do nosso dever, ao invés de buscar o prazer em todas as suas formas.
Que o amor nos pregue à cruz como nela pregou nosso Salvador, o amor por Aquele que nos amou até a morte e morte de cruz; amor por nossos irmãos, mesmo aqueles que nos ofenderam e feriram, repetindo a oração do Salvador:
“Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem”; amor constante e generoso, que não recue diante dos sacrifícios necessários para a Glória de Deus e a salvação das almas.
Sofrendo assim com Jesus e por amor a ele, teremos parte nos frutos de sua redenção e em sua glória.
Fonte: retirado do livro “A Divinização do Sofrimento” do Rev. Pe. Adolphe Tanquerey.





























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