S.S. Pio XII: Nossa Senhora na História da França - 1ª Parte

S.S. Papa Pio XII

2. Toda terra cristã é uma terra marial, e não há povo redimido pelo sangue de Cristo que não goste de proclamar Maria sua mãe e sua padroeira.
Relevo empolgante assume, todavia, esta verdade quando se evoca a história da França.
O culto da Mãe de Deus remonta às origens da sua evangelização, e, entre os mais antigos santuários marianos, Chartres ainda atrai os peregrinos em grande número, e milhares de jovens.
A Idade Média, que, notadamente com São Bernardo, cantou a glória de Maria e lhe celebrou os mistérios, viu a admirável eflorescência das vossas catedrais dedicadas a Nossa Senhora: Le Puy, Reims, Amiens, Paris e tantas outras...
Essa glória da Imaculada anunciam-na elas de longe pelas suas flechas esbeltas, fazem-na resplandecer na pura luz dos seus vitrais e na harmoniosa beleza das suas estátuas; atestam elas sobretudo a fé de um povo a se alçar acima de si mesmo num surto magnífico, para erguer no céu da França a homenagem permanente da sua piedade mariana.
Os vários títulos de nossa Senhora

Nossa Senhora du Puy (da Penha)

3. Nas cidades e nos campos, no topo das colinas ou dominando o mar, os santuários consagrados a Maria humildes capelas ou esplêndidas basílicas cobriram pouco a pouco o país com a sua sombra tutelar.
Neles, príncipes, pastores e fiéis inúmeros afluíram, ao longo dos séculos, para a Virgem santa, a quem saudaram com os títulos mais expressivos da sua confiança ou da sua gratidão.
Aqui se invoca nossa Senhora da misericórdia, de todo auxílio ou do bom socorro; ali o peregrino refugia-se ao pé de nossa Senhora da guarda, da piedade ou da consolação; alhures, a sua prece sobe para nossa Senhora da luz, da paz, da alegria ou da esperança; ou, ainda, implora ele nossa Senhora das virtudes, dos milagres ou das vitórias.
Admirável ladainha de invocações, cuja enumeração jamais acabada narra, de província em província, os benefícios que a Mãe de Deus tem derramado, no correr dos tempos, sobre a terra da França.


Nossa Senhora das Graças e nossa Senhora de Lourdes
4. Devia, no entanto, o século XIX, após a tormenta revolucionária, ser por muitos títulos o século das predileções marianas. Para só citarmos um fato, quem é que não conhece hoje em dia a “medalha milagrosa”?
Nossa Senhora dá a Medalha Milagrosa
a Santa Catarina Labouré

Revelada, no próprio coração da capital francesa, a uma humilde filha de São Vicente de Paulo que tivemos a alegria de inscrever no catálogo dos santos, essa medalha cunhada com a efígie de “Maria concebida sem pecado” espalhou por todos os lugares os seus prodígios espirituais e materiais.
E, alguns anos mais tarde, de 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858, à bem-aventurada virgem Maria aprazia, por um favor novo, manifestar-se na terra dos Pirineus a uma menina piedosa e pura, saída de uma família cristã, trabalhadora na sua pobreza.
“Ela vem a Bernadete, dizíamos nós outrora, fá-la a sua confidente, a colaboradora, o instrumento da sua ternura maternal e da misericordiosa onipotência de seu Filho, para restaurar o mundo em Cristo por uma nova e incomparável efusão da redenção”.(2)



Lourdes
5. Os acontecimentos que então se desenrolaram em Lourdes, e cujas proporções espirituais melhor medimos hoje, são-vos bem conhecidos.
Sabeis, caros filhos e veneráveis irmãos, em que condições estupendas, apesar de zombarias, de dúvidas e de oposições, a voz daquela menina, mensageira da Imaculada, se impôs ao mundo.
Sabeis a firmeza e a pureza do testemunho, experimentado com sabedoria pela autoridade episcopal e por ela sancionado desde 1862.
Já as multidões haviam acorrido e não têm cessado de precipitar-se para a gruta das aparições, para a fonte milagrosa, para o santuário elevado a pedido de Maria.
É o comovente cortejo dos humildes, dos doentes e dos aflitos; é a imponente peregrinação de milhares de fiéis de uma diocese ou de uma nação; é a discreta diligência de uma alma inquieta que busca a verdade...
Dizíamos nós: “Jamais num lugar da terra se viu semelhante cortejo de sofrimento, jamais semelhante irradiação de paz, de serenidade e de alegria!”(3)
E, poderíamos acrescentar, jamais se saberá a soma de benefícios de que o mundo é devedor à Virgem auxiliadora!
“Ó gruta feliz, honrada pela presença da Mãe de Deus! Rocha digna de veneração, da qual brotaram abundantes as águas vivificadoras!”(4)

Notas:
(2) Discurso de 28 de abril de 1935 em Lourdes: Eug. Card. Pacelli, Discursos e Panegíricos, 2° ed., Vaticano,1956, p. 435.
(3) Ibidem, p. 437.
(4) Ofício da festa das Aparições, Hino das II Vésperas.

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