A MATERNIDADE DE MARIA NA VIDA DA IGREJA

A maternidade da Virgem Maria e a sua importância na vida e na missão da Igreja.

A bem-aventurada Virgem Maria, pelo dom da maternidade divina, que a une com o seu Filho Jesus Cristo, e pelas suas graças e funções singulares, está também intimamente unida à vida e à missão da Igreja Católica. A Mãe de Deus é a figura da Igreja, o seu modelo exemplar, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Jesus Cristo. Maria Santíssima permanece na Igreja desde o princípio, com os Apóstolos, enquanto esperam o Pentecostes1. Sendo a Virgem de Nazaré aquela que é “feliz porque acreditou”2, ela está sempre presente no meio da Igreja, “de geração em geração”3, sendo para ela modelo da esperança que não decepciona4.

A maternidade da Virgem Maria e a sua importância na vida e na missão da Igreja.Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

A Virgem Maria acreditou que se cumpririam as promessas que lhe tinham sido feitas da parte do Senhor. Como Virgem, acreditou que conceberia e daria à luz um filho: o “Filho do de Deus”5, ao qual seria dado o nome de “Jesus”6, que significa “Deus salva”7. Como serva do Senhor, Nossa Senhora permaneceu perfeitamente fiel à pessoa e à missão deste seu Filho Jesus. Como Mãe, “pela sua fé e obediência […] gerou na terra o próprio Filho de Deus, sem ter conhecido homem, mas por obra e graça do Espírito Santo”8. Depois da sua Assunção, unida ainda mais intimamente ao seu Filho Jesus Cristo na glória celeste, a Virgem Maria continua a cooperar na vida e da missão da Igreja.

A Mãe de Deus e a maternidade da Igreja

A Igreja “torna-se mãe […] pela fiel recepção da palavra de Deus”9. Como a Virgem de Nazaré, que foi a primeira a acreditar, acolhe a Palavra de Deus que lhe foi revelada na Anunciação10 e permanece fiel a ela em todas as provações até à Cruz11, da mesma forma, a Igreja também se torna mãe quando acolhe com fidelidade a Palavra de Deus e, pela pregação e pelo Batismo, gera para uma vida nova e imortal os filhos, concebidos por obra do Espírito Santo e nascidos de Deus.

Esta vocação materna da Igreja foi expressa de modo particularmente vívido pelo Apóstolo dos Gentios na Carta aos Gálatas: “Meus filhinhos, por quem sofro novamente as dores de parto, até que Cristo não se tenha formado em vós”12! Nestas palavras de São Paulo, percebemos a “consciência que tinha a Igreja primitiva da função maternal, que andava ligada ao seu serviço apostólico entre os homens. Tal consciência permitia e constantemente permite à Igreja encarar o mistério da sua vida e da sua missão à luz do exemplo da Genetriz [Mãe] do Filho de Deus, que é ‘o primogênito entre muitos irmãos’”13.

A maternidade e a natureza sacramental da Igreja

A Igreja apreende de Maria Santíssima o que é a própria maternidade, reconhece esta dimensão maternal da própria vocação como algo ligado essencialmente à sua natureza sacramental, “contemplando a sua santidade misteriosa, imitando a sua caridade e cumprindo fielmente a vontade do Pai”14. A Igreja é sinal e instrumento da íntima união com Deus, com base na maternidade que lhe é própria. “Vivificada pelo Espírito Santo, [a Igreja] ‘gera’ filhos e filhas da família humana para uma vida nova em Cristo. Com efeito, assim como Maria está ao serviço do mistério da Incarnação, também a Igreja permanece ao serviço do mistério da adoção como filhos mediante a graça”15.

A exemplo de Nossa Senhora, a Igreja permanece a virgem fiel ao próprio Esposo, que é Jesus Cristo: “também ela é virgem, que guarda íntegra e pura a fé jurada ao Esposo”16. A Igreja é a esposa de Cristo17, “a Esposa do Cordeiro”18. Se a Igreja, como esposa, guarda a fé jurada a Cristo, esta fidelidade, embora seja imagem do matrimônio19, possui também o valor de ser o tipo, a imagem primordial, da total doação a Deus no celibato “por amor do Reino dos céus”, ou seja, da virgindade consagrada a Deus20. “Esta virgindade precisamente, a exemplo da Virgem de Nazaré, é fonte de uma especial fecundidade espiritual: é fonte da maternidade no Espírito Santo”21.

A maternidade da Virgem Maria na Igreja

A Igreja guarda a fé recebida de Cristo, a exemplo de Maria, que guardava e meditava no seu coração22 tudo o que se dizia respeito ao seu divino Filho. Dessa forma, a Igreja empenha-se em guardar a Palavra de Deus, apurando as suas riquezas com discernimento e prudência, para dela dar sempre o testemunho fiel a todos os homens, ao longo dos tempos. Nessa relação de exemplaridade, a Igreja descobre-se em Maria e procura tornar-se semelhante a ela: “A imitação da Mãe do seu Senhor e por virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança e sincera a caridade”23.

Não há dúvida que Maria está presente no mistério da Igreja como modelo. Entretanto, “o mistério da Igreja consiste também em gerar os homens para uma vida nova e imortal: é a sua maternidade no Espírito Santo. E nisto, Maria não é só modelo e figura da Igreja; mas é muito mais do que isso. Com efeito, ‘ela coopera com amor de mãe para a regeneração e formação’ dos filhos e filhas da mãe Igreja”24. A maternidade da Igreja realiza-se não só segundo o modelo e a figura da Mãe de Deus, mas também com a sua cooperação materna. Continuamente, a Igreja experimenta copiosamente esta cooperação da Virgem Maria, esta mediação materna que lhe é característica.

Enquanto estava aqui na Terra, a Mãe de Deus já cooperou na geração e formação dos filhos e das filhas da Igreja, sempre como Mãe daquele Filho, que Deus Pai constituiu o primogênito entre muitos irmãos25. Nesta geração e educação, a Virgem Maria cooperou com amor de mãe26. “Descobre-se aqui o valor real das palavras de Jesus, na hora da Cruz, à sua Mãe: ‘Mulher, eis o teu filho’, e ao discípulo: ‘Eis a tua mãe’27. São palavras que determinam o lugar de Maria na vida dos discípulos de Cristo e exprimem […] a sua nova maternidade como Mãe do Redentor: a maternidade espiritual, que nasceu do mais íntimo do mistério pascal do Redentor do mundo. Trata-se de uma maternidade na ordem da graça, porque invoca o dom do Espírito Santo que suscita os novos filhos de Deus, remidos pelo sacrifício de Cristo: daquele mesmo Espírito que, conjuntamente com a Igreja, também Maria recebeu no dia do Pentecostes”28.

O culto especial a Santíssima Virgem Maria

Por sua singular participação no mistério de Jesus Cristo e da Santa Igreja, a Virgem Maria é honrada com culto especial. Desde os tempos mais antigos, a Santíssima Virgem é venerada com o título de “Mãe de Deus” e sob a sua proteção se colocam os fiéis, especialmente nos perigos e necessidades. Essa devoção mariana dos primeiros cristãos é atestada pela mais antiga oração mariana que se tem conhecimento, composta provavelmente antes do século III. Em latim, a oração se chama: “Sub tuum præsidium”, e pode ser traduzida por: “À vossa proteção”. Na história da Igreja, a devoção a Nossa Senhora esteve sempre presente e nos últimos séculos tem aumentado prodigiosamente por todo o mundo. As várias aparições da Virgem Maria, em diversas partes do mundo, é um dos fatores principais que influenciaram no crescimento extraordinário da devoção mariana na Igreja. Em nossos dias, são praticamente incontáveis as devoções e as orações marianas, das quais se destacam o Santo Rosário, o Ofício da Imaculada Conceição e a devoção ao Imaculado Coração de Maria. A grandeza do culto mariano na Igreja Católica torna-se ainda mais evidente e expressivo se considerarmos as várias comunidades, congregações religiosas, capelas, paróquias, santuários, basílicas, dedicados a Santíssima Virgem. Este culto absolutamente singular contém em si e exprime o vínculo profundo que existe entre a Mãe de Cristo e a Igreja29. “Como virgem e mãe, Maria permanece um ‘modelo perene’ para a Igreja”30. Pois, como modelo exemplar, ou protótipo, Maria está presente no mistério de Cristo e também permanece constantemente presente no mistério da Igreja. Por esta íntima ligação, a exemplo da Mãe de Deus, a Igreja também é chamada mãe e virgem31.

Esta maternidade da Igreja é crida e vivida por nós de modo especial na celebração na Santa Missa, na qual se torna presente Jesus Cristo, no seu verdadeiro Corpo, nascido da Virgem Maria. A piedade do Povo de Deus sempre vislumbrou uma ligação profunda entre a devoção a Virgem Santíssima e o culto da Eucaristia. Esta ligação comprova-se na Liturgia, tanto ocidental como oriental, na tradição das congregações religiosas, na espiritualidade dos movimentos e comunidades contemporâneos, mesmo dos movimentos de jovens, e na pastoral dos inúmeros santuários marianos. Por tantos prodígios, não há como negar que “Maria conduz os fiéis à Eucaristia”32. Não poderia ser diferente, pois a Virgem Maria sempre nos conduz a Jesus Cristo. Que a Mãe da Igreja nos ajude a amar cada vez mais o Filho de Deus e a sermos fiéis à missão que Ele nos confia a cada dia. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós!

Natalino Ueda, servo inútil de Jesus por Maria.

Oração “Sub tuum præsidium”:

Sub tuum præsidium confúgimus, sancta Dei Genitrix; nostras deprecatiónes ne despícias in necessitátibus, sed a perículis cunctis líbera nos semper, Virgo gloriósa et benedícta.

Tradução:

À vossa proteção recorremos, santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.

 

Links relacionados:

FORMAÇÃO CANÇÃO NOVA. “Eis aí a tua Mãe”: a maternidade espiritual.

PADRE PAULO RICARDO. A Mãe de Deus e a falsa mãe do mundo.

TODO DE MARIA. Maria, o feminino e a maternidade.

 

Referências:

1 Cf. At 1, 14.

2 Lc 1, 45.

3 Lc 1, 50.

4 Cf. Rm 5, 5,

5 Lc 1, 35.

6 Lc 1, 31; Mt 1, 21.

7 Cf. Mt 1, 21.

8 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen gentium, 63.

9 Idem, 64.

10 Cf. Lc 1, 26-38.

11 Cf. Jo 19, 25.

12 Gl 4, 19.

13 PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, 43. Rm 8, 29.

14 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 64.

15 PAPA JOÃO PAULO II. Op. cit., 43.

16 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 64.

17 Cf. Ef 5, 21-33; 2 Cor 11, 2.

18 Ap 21, 9.

19 Cf. Ef 5, 23-33.

20 Cf. Mt 19, 11-12; 2 Cor 11, 2.

21 PAPA JOÃO PAULO II. Op. cit., 43.

22 Cf. Lc 2, 19.51.

23 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 64.

24 PAPA JOÃO PAULO II. Op. cit., 44.

25 Cf. Rm 8, 29.

26 Cf. CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 63.

27 Jo 19, 26-27.

28 PAPA JOÃO PAULO II. Op. cit., 44.

29 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Op. cit., 42. Cf. S. Ambrósio, De Institutione Virginis, XIV, 88-89: PL 16, 341; S. Agostinho, Sermo 215, 4: PL 38, 1074; De Sancta Virginitate, II, 2; V, 5; VI, 6: PL 40, 397; 398 s.; 399; Sermo 191, II, 3: PL 38, 1010 s.

30 Idem, ibidem.

31 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 63.

32 Idem, ibidem.

Fonte: Todo de Maria

Comentários

Postagens mais visitadas