QUANTO SE FALA SOBRE DEUS!!

D. José Antonio Peruzzo

São já antigos os anúncios de que os caminhos da humanidade seriam fortemente assinalados pela centralidade do homem e a dispensa de Deus. Isso seria ensejado tanto pela genialidade do pensamento humano(filosofia) quanto pela capacidade inventiva da nossa inteligência(ciência e tecnologia). Especialmente a partir de meados dos anos 1700escrevia-se que o domínio do poder do homem inteligente sobre as realidades atribuídas a Deus seria apenas uma questão de tempo.Passaram-se as décadas, tornaram-se séculos, e ainda se continua a repetir o mesmo, quase como um estribilho de variadas melodias.Todavia, o homem de hoje continua à procura de Deus. E de si mesmo.

Provavelmente nunca se tenha escrito tanto sobre Deus. E este não é apenas tema para teólogos ou religiosos. Também os ateus o fazem. Hoje os tratados de “teologia” se enumeram; são cada vez mais volumosos. O mais recente e conhecido foi escrito sob a mão de um famoso biólogo radicado nos Estados Unidos (Richard Dawkins; Deus, um delírio). Os que dispensam Deus saudaram a obra como altamente persuasiva. Os que crêeme leram-no atentamente dizem que o autor passou da crítica mordaz ao fundamentalismo religioso à adesão ao fundamentalismo científico.

Felizmente, na direção oposta, também há grandes homens de ciência que se puseram a escrever com entusiasmo e fascínio sobre a questão. Mas neste caso não é argumentação da lógica científica que prevalece. Deus não se “enquadra” em esquemas de ordem científica. Ele não “cabe”em sistematizações apenas racionais. São estas as referências de um outro cientista, talvez até mais respeitado que o anterior. Falo do norte-americano Francis Collins, também biólogo, além de médico oncologista. É um dos grandes protagonistas do projeto para decifrar o genoma humano. Este, de ateu convicto tornou-se um cristão motivado.Passou a crer no Deus bíblico, naquele Deus revelado nas sagradas escrituras. Collins não fala de Deus como uma ideia, como um conceito,como uma teoria, mas reporta-se a Ele como uma Pessoa com quem se encontrou. Não é ciência, é experiência pessoal.

De quem aprendeu? Quem foi seu interlocutor para argumentos encontra-argumentos? Em seu livro “A Linguagem de Deus”, p. 27, refere que sua visão a respeito da experiência religiosa tomou forma completamente nova a partir da fé testemunhada por seus pacientes cancerosos. A grandeza de espírito e a paz por eles irradiada, mesmo ante situações muito difíceis de saúde, suscitaram-lhe muitas inquietantes indagações. E o diálogo com seus pacientes levou-o aceitar e acolher Deus em sua vida. Ao seu médico, os doentes, mais dogue discorrer sobre Deus, testemunharam-no. E ele, médico e cientista,tornou-se um homem de fé, um cristão professo. A partir de então percebera que Deus não é um enigma a ser decifrado, mas um mistério a ser experimentado.

Hoje é grande a perplexidade face às mudanças de caráter cultural que se verificam em todos os ambientes. Fala-se de uma nova civilização. As relações das pessoas entre si, com as coisas e com Deus recebem formas e expressões bem diversas. As necessidades religiosas se tornaram bem mais específicas. Na procura por Deus e no falar sobre Ele, com frequência se busca não a verdade, mas a utilidade: bens, ou sucesso, ou força para enfrentar as dificuldades do quotidiano, ou libertação de todos os males. A potência tecnológica dos tempos pós-modernos e a rapidez da comunicação não necessariamente proporcionam proximidade entre as pessoas. E cresce o “vazio de sentido”. E a religião poderia preencher tais lacunas.

Mas ainda não se trata de experiência de fé. O Papa Bento XVI recordou com simplicidade e eloquência que “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida, e comisso, uma orientação decisiva”. Segue que a todos nos toca recomeçar a partir de Cristo. É o encontro pessoal com Ele que confere sentido e clareza ao modo cristão de ser religioso e de falar de Deus. Sem este encontro incorremos no risco de tomar o nome divino a serviço de nossos medíocres pragmatismos.

Fonte: Comunidade Shalon

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