LENDO AS CARTAS DE SANTA BERNADETTE - 2

Lendo as cartas de Santa Bernadette Soubirous – 2

Manuscritos de Santa Bernadette

Continuacao do post anterior

Percebendo a mão de Deus que castiga

Bernadette via com olhos sobrenaturais os acontecimentos de sua época.
Assim, por exemplo, em 1870, durante a guerra franco-prussiana, quando os alemães já estavam próximos de Nevers — e, portanto, ameaçavam a própria segurança das irmãs —, estando já a comunidade inteira a serviço dos feridos, Santa Bernadette escreve à sua irmã Maria:

“Não temos senão uma coisa a fazer: é pedir muito à Santíssima Virgem, a fim de que Ela queira interceder por nós junto de seu querido Filho, e nos obter perdão e misericórdia; tenho a doce confiança de que a Justiça de Deus que nos castiga neste momento será então aplacada por essa terna Mãe” (Carta à sua irmã Maria, de 25 de dezembro de 1870, p.70).

Em 1871, durante os grandes tumultos da Comuna de Paris, ela escreve à Madre Alexandrina:

“Permiti, minha querida Mãe, que vos deseje um bom Aleluia, bem como a todas as queridas Irmãs. Nós deveríamos mais chorar do que nos regozijar vendo nossa pobre França tão endurecida e tão cega.
“Quanto Nosso Senhor é ofendido! Roguemos muito por esses pobres pecadores, a fim de que eles se convertam: apesar de tudo, são nossos irmãos! Peçamos a Nosso Senhor e à Santíssima Virgem que transformem esses lobos em cordeiros” (Carta à Madre Alexandrina Roques, de 3 de abril de 1872, p. 78).

Já em 1875, numa outra carta, fazendo alusão aos massacres cometidos em Paris durante o advento da Terceira República e das grandes enchentes na região de Lourdes, ela diz à sua irmã Maria, em carta de 4 de julho:

 

“O bom Deus nos castiga, mas é sempre pai. As ruas de Paris foram regadas pelo sangue de um grande número de vítimas, e isso não foi suficiente para tocar os corações endurecidos no mal; foi necessário que as ruas do Sul fossem também lavadas e que elas tivessem também suas vítimas. Meu Deus!
“Como o homem é cego se não abre seu coração à luz da fé! Depois de infelicidades tão terríveis, não teremos a tentação de nos perguntar o que teria podido provocar esses terríveis castigos?
“Escutemos bem, e ouviremos uma voz, no fundo de nosso coração, a nos dizer: é o pecado, sim, o pecado, pois que é a maior infelicidade que nos atrai todos os castigos.
“O mal que cometemos com malícia cai sobre nós. Eis a felicidade e as vantagens que nos procuram a obra do pecado. Ó meu Deus, perdoai-nos e fazei-nos misericórdia” (pp. 97-98).
Ela pensa nos militares que tinham de manter a ordem e a disciplina durante esses tempos calamitosos. Assim, diz a seu irmão, que havia se engajado no exército:

Santa Bernadette no convento de Saint Gildard, Nevers

Santa Bernadette no convento de Saint Gildard, Nevers

“Eu sei que os militares têm muito que sofrer em silêncio. Se eles tivessem o cuidado de dizer todas as manhãs ao levantar-se estas curtas palavras a Nosso Senhor: ‘Meu Deus, hoje eu quero fazer tudo e sofrer tudo por vosso amor’, quantos méritos adquiririam para a eternidade.
“Um soldado que fizesse isso e fosse fiel aos seus deveres de cristão tanto quanto lhe seja possível, teria tanto mérito quanto um religioso.
“Com efeito, o religioso não pode esperar recompensa de seus trabalhos e de seus sofrimentos senão pelo que tiver sofrido e trabalhado para comprazer a Nosso Senhor” (Carta a João Maria, de 1 de julho de 1876, p.109).

“Nossa família é mais numerosa no Céu”

Sua irmã Maria, que já tinha perdido três filhos, perde a última filha que lhe restava. A carta que lhe escreve Santa Bernadette é cheia de espírito sobrenatural:

“Adoremos sempre e bendigamos a mão poderosa de Nosso Senhor, que não nos atinge senão para nos curar e nos fazer ver o nada das coisas desta miserável Terra, onde não estamos senão de passagem.
“Eu compreendo que para o coração de uma mãe é bem triste, eu diria mesmo cruel, perder seu quarto filho.
“É certo que a prova é bem rude. Mas quando olho as coisas com os olhos da fé, não posso me impedir de exclamar: feliz mãe que envia anjos ao Céu, que rezarão por ti e por toda a tua família. Eles serão nossos protetores junto de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem. [...]
“Coragem: nossa família é mais numerosa no Céu do que na Terra. Rezemos, trabalhemos e soframos tanto quanto agradar a Nosso Senhor. Talvez daqui a pouco partilharemos sua felicidade” (Carta de 26 de agosto de 1876, p.115).

Em carta ao Papa: “Há muito que sou um zuavo

Escrito de Santa BernadetteEscrito de Santa Bernadette

Para terminar, um trecho da carta que a santa escreveu a Pio IX, onde se pode ver seu espírito combativo e cheio de fé:

“Há muito que sou zuavo,(3) se bem que indigno, de Vossa Santidade. Minhas armas são a prece e o sacrifício, que eu guardarei até meu último suspiro.
“Lá somente a arma do sacrifício cairá, mas a da prece me seguirá ao Céu onde ela será bem mais poderosa que sobre esta terra de exílio. [...]
“Parece-me que, cada vez que rezo segundo vossas intenções, do Céu a Santíssima Virgem deve frequentemente lançar seus olhares sobre Vós, Santíssimo Padre, pois que Vós a proclamastes Imaculada e, quatro anos depois, essa boa Mãe veio à Terra para dizer: ‘Eu sou a Imaculada’” (17 de dezembro de 1876, p.126).

Notas:
1. Dom Prospero Guéranger, El Año Litúrgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, tomo II, p. 779.
2. As cartas são traduzidas da obra Soeurs de la Charité de Nevers, Sainte Bernadette d’après ses lettres, P. Lethielleux, Paris, 1993.
3. “Zuavo Pontifício”. Nome do corpo de infantaria francesa, originalmente recrutado na Argélia, composto por voluntários católicos que se dispuseram a proteger o Papa Bem-aventurado Pio IX contra os revolucionários que invadiram os Estados Pontifícios. Foram acrescidos de voluntários alemães, franceses, belgas, romanos, canadenses, espanhóis, irlandeses e ingleses.


(Autor: Plinio Maria Solimeo, CATOLICISMO )

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