O CATOLICISMO ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Basílica de São PedroA história da Igreja é a história do Corpo de Cristo prolongado através dos séculos; traz as características desse Corpo dilacerado pelos homens, mas vencedor pela força do Pai. – Dividimo-la em quatro períodos:

1) a Igreja Antiga, que vai desde Pentecostes até 692 (Concílio de Trulos II, em Constantinopla). Nessa data as invasões bárbaras na Europa haviam terminado, novo cenário e nova cultura se formaram, dando cunho novo às atividades da Igreja;

2) a Idade Média (692-1450), época que termina com o Renascimento de cultura greco-romana. Este e a Reforma protestante, assim como a descoberta de novos continentes, mudam o quadro da história da Igreja, dando origem a nova fase;

3) a Idade Moderna (1450-1929), marcada pelo racionalismo e o surto de outras correntes de pensamento alheias à fé católica, mas também caracterizada pela expansão missionária nos novos continentes;

4) a Idade Contemporânea (1929 até nossos dias): o Tratado do Latrão em 1929, restaurando o Estado Pontifício (que caíra em 1870), assim como o intercâmbio entre a Igreja e o mundo atual, imprimem nova configuração à marcha do Catolicismo.

Estudemos brevemente cada uma destas quatro fases.

A Idade Antiga (- 692)

Divide-se em duas sub-fases:

das origens a 313; a Igreja dos mártires perseguidos pelo Império Romano. “O sangue dos mártires é a semente de novos cristãos” (Tertuliano + 220); de 313 a 692. Em 313 o Imperador Constantino resolve dar paz à Igreja mediante o Edito de Milão. Os cristãos então se multiplicam e evangelizam as instituições do Império Romano assim como os bárbaros invasores.

Eis os pontos salientes da história da Igreja Antiga:

1) As perseguições. Começaram em 64 sob o Imperador Nero. Eram inevitáveis, pois os cristãos professavam um só Deus dentro de um mundo em que todas as instituições (até mesmo as do lar e da família) eram marcadas pelo paganismo. Os cristãos, heroicos pela graça de Deus, foram mais fortes do que os adversários não porque tivessem armas ou dinheiro, mas porque possuíam em seu favor a verdade do Evangelho, que eles traduziam corajosamente em vida fiel e coerente.

2) A época de Constantino (306-337), após o Edito de Milão, permitiu a ação missionária mais dilatada. A Igreja se manteve sempre alheia às práticas pagãs; um dos exemplos mais típicos é o do Bispo S. Ambrósio, de Milão, que em 390 censurou energicamente os desmandos do Imperador Teodósio, levando-o à penitência.

3) A elaboração das grandes verdades de fé referentes à SS. Trindade, a Jesus Cristo, à Igreja, ao pecado e à graça foi realizada pelos grandes Bispos e teólogos e que foram rejeitadas pelos Concílios Ecumênicos (assembleias de Bispos de toda a Igreja) em Niceia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla II (553), Constantinopla III (680/1).

4) A fundação do Estado Pontifício. Em 330 Constantino transferiu a capital do Império de Roma para Bizâncio no Oriente (Istambul, na Turquia de hoje). O Ocidente de Europa foi então entregue aos bárbaros invasores, que causavam grandes desordens. Nesse cenário confuso, ia sendo cada vez mais respeitada e solicitada a autoridade do Bispo de Roma (o Papa), pois este exercia a função de protetor das populações devastadas pela guerra. Também acontecia que muitos nobres, ao morrer, doavam suas terras ao Pontífice. Isto tudo deu ocasião a que se formasse em torno da Sé de Roma um território governado pelo Papa a título de Pastor dos fiéis. Tal estado de coisas foi-se consolidando, visto que os bizantinos se desinteressavam sempre mais pelos ocidentais. Diante destes fatos, Pepino o Breve, mordomo do palácio do rei dos Francos, mas na realidade chefe do reino, que se ia impondo no Ocidente, resolveu reconhecer o Papa como soberano do Estado Pontifício (Patrimônio de São Pedro, como se chamava) em 756; em resposta, o Papa Estevão II o reconheceu não mais como mordomo da casa do Rei, mas como Rei dos Francos.

Vê-se assim que o Estado Pontifício resulta das doações de cristãos fervorosos feitas ao Papa, assim como de uma situação política que deva naturalmente ao Papa o governo de numerosas populações abandonadas.

A Idade Média (692- 1450)

Subdivide-se em:

a) Idade Média Ascendente (692-1054): reconstrução após as invasões. O poder civil vai-se ingerindo excessivamente nos assuntos da Igreja, sufocando a liberdade desta, principalmente pela nomeação de Bispos (investidura leiga);

b) a Idade Média Alta (1054-1294). A Igreja se emancipa da intromissão do poder civil e atinge o máximo de sua projeção tanto no plano religioso como no civil;

c) Idade Média Decadente (1294-1450). A Igreja foi perdendo influência no foro civil; houve o empobrecimento da teologia e da piedade.

Eis os pontos salientes da Idade Média:

1) O Papa S. Gregório VII (1073-85) insurgiu-se contra o costume, dos nobres, de nomear os Bispos1. Opôs-se especialmente ao Imperador Henrique IV, da Alemanha, que, excomungado, no ano de 1077 fez penitência em Canossa na Itália do Norte. A Igreja assim readquiriu a liberdade que o Cesaropapismo dos Imperadores lhe queria confiscar.

2) O ponto alto da Idade Média foi o século XIII, no qual viveram o grande Papa Inocêncio III (1198-1216), prestigiado por eclesiásticos e leigos;

os Santos Domingos, Francisco e Clara de Assis, pioneiros da pobreza dentro da Igreja, provocando o seguimento de numerosos filhos e filhas espirituais; os grandes doutores das Universidades de Nápoles, Paris, Bolonha, Oxford: S. Alberto Magno, S. Boaventura, S. Tomás de Aquino, Alexandre de Hales…, que deixaram famosas “Sumas de Teologia”.

3) As Cruzadas foram expedições dos cristãos ocidentais destinadas a libertar o Santo Sepulcro de Cristo em Jerusalém, que estava em poder dos muçulmanos.  Foram inspiradas pelo vigor da fé medieval, mas nem sempre os respectivos chefes militares mantiveram a intenção inicial estritamente religiosa (fazer “a viagem da Cruz”); cederam a interesses políticos, que muito prejudicaram a ação dos homens de fé, seus soldados. São Luís IX, rei de França, empreendeu a sétima e oitava Cruzadas. – Estas expedições todas hão de ser entendidas à luz da mentalidade da época, que era profundamente marcada pela fé e que via no ideal dos cavaleiros postos a serviço de Deus em Ordens Religiosas uma de suas expressões mais típicas e caras.

4) A Inquisição surgiu no século XII como tribunal misto (eclesiástico e civil), destinado a combater os hereges cátaros. Estes eram contrários não só às verdades da fé, mas também às instituições civis (matrimônio, autoridade do Governo, serviço militar…), de modo que causavam sérias desordens entre as populações urbanas e camponesas. – Do século XIV em diante, a Inquisição foi sendo mais e mais utilizada pelo poder dos reis para favorecer seus interesses políticos sob título religioso. Esta característica se acentuou em Espanha e Portugal a partir do século XVI, quando os reis quiseram unificar as populações dos seus territórios, combatendo judeus e muçulmanos. Esta ingerência preponderante do poder civil desvirtuou a inquisição, que a princípio era uma expressão de fé encarnada dentro dos moldes e costumes da Idade Média. – S. Joana d’Arc foi vítima do reino da Inglaterra, que queria livrar-se dessa jovem heroína,  acusando-a caluniosamente diante da Inquisição. Em síntese, a Idade Média não foi um período obscurantista, mas, sim, o traço entre a antiguidade e a época moderna; teve suas realizações culturais e científicas, sem as quais não se explicaria a continuidade da história.

Idade Moderna  (1450 – 1929)

No fim da Idade Média deu-se a descoberta de documentos da cultura pagã greco-romana, que deu origem a nova mentalidade, conhecida como “renascentista”. O ideal da Cidade de Deus, em que o Papado e o Império colaborariam (tão acariciado por Gregório VII e Inocêncio III), foi cedendo a tendência individualistas dos reis dos séculos XVI e seguintes, os quais procuraram mesmo formar Igrejas nacionais, emancipadas de Roma. Isto fez que a Idade Moderna seja caracterizada por três grandes negativas:

a) o Não à Igreja Católica dito pela Reforma protestante (século XVI).

b) o Não à Religião revelada (Cristianismo) dito pela filosofia racionalista, que teve sua expressão máxima na Revolução Francesa de 1789.

O Não ao próprio Deus, proferido pelo ateísmo em suas diversas modalidades (positivismo, socialismo, marxismo).

Em nossos dias, já na Idade Contemporânea, dá-se um retorno aos valores perenes, que a Igreja guardou fielmente através da tempestade. A guinada para o ateísmo cede lugar de novo à consciência do mistério de Deus e da vida espiritual, sem os quais o homem se autodestrói.

Eis os traços mais salientes da Idade Moderna:

O protestantismo. Já foi abordado às pp. 19s deste fascículo.

O processo de Galileu. Este tinha razão. Todavia as circunstâncias da época dificultavam que isto fosse reconhecido; Galileu parecida contradizer à Escritura Sagrada (cf. Josué 10, 12-14) e, além disso, ainda não tinha argumentos plenamente claros em prol da sua tese. – Não foi condenado por um Concílio Ecumênico nem por um pronunciamento dogmático do Papa, mas por uma Congregação da Santa Sé – o que não compromete o magistério infalível da Igreja.

A Revolução Francesa em 1789 pós termo ao absolutismo dos reis, favorecendo idéias democráticas. Contudo foi movida por mentalidade racionalista, em conseqüência da qual a “Deusa Razão” foi entronizada no altar-mor da catedral de Paris. Muitos fiéis católicos morreram mártires sob a pressão de revolucionários extremados. Aos poucos a onda de impiedade recuou.

O Estado Pontifício cedeu ao movimento de unificação da península itálica sob a hegemonia do reino do Piemonte-Sardanha em 1870. O Papa Pio IX não quis opor resistência às tropas que cercavam Roma. Doravante o Pontífice e seus sucessores ficariam prisioneiros no Vaticano. A extinção do Estado Pontifício, grande como era, teve suas vantagens para a Igreja, pois o Papa foi dispensado das preocupações ligadas à administração de um Estado; pôde sobressair mais na grandeza da sua missão espiritual.

É de notar que, no mesmo ano em que a Igreja perdeu seu poder temporal, foi realizado o Concílio do Vaticano I. Este, fazendo eco à fé dos cristãos, definiu o primado do Pontífice Romano e a infalibilidade de que goza quando define proposições de fé ou de Moral. Cristo não podia deixar sua Igreja sem a assistência necessária para que o patrimônio do Evangelho não fosse dilapidado pelos homens.

Os Papas posteriores a Pio IX insistiram na restauração do Estado Pontifício, ainda que de pequenas dimensões.  Com efeito; a independência do Papa em relação ao Governo de Itália era necessária para que o Pontífice pudesse (e possa) exercer livremente a sua missão espiritual, que atinge as consciências de fiéis esparsos pelo mundo inteiro. – Finalmente o Tratado do Latrão em 1929 fez ressurgir o Estado Pontifício, que mede 0,44 km2 (o menor Estado independente do mundo), mas é suficiente para garantir ao Papa a isenção de qualquer interferência estrangeira nos assuntos da Igreja.

Em nossos dias, a Igreja, desafiada por novas situações, tira da sua vitalidade novas expressões de fé e zelo apostólico.

Fonte: Editora Cléofas

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