OS TRÊS REIS MAGOS–“ Pouco mas representativos “ Parte I

 
Os Reis Magos representaram toda a humanidade no Natal: poucos mas representativos.

Não há um comentador da adoração dos Magos, que não diga que era conveniente que os Magos viessem adorar a Nosso Senhor para representar os vários povos da gentilidade que desde o começo se aproximavam de seu berço.

E que era conveniente também que fossem magos, para  representar toda a sabedoria antiga  prestando homenagem a Nosso Senhor.

A palavra mago designa aqui  homem  de uma sabedoria  extraordinária, de uma  sabedoria relevante, vindos  de todos  os lados, para adorar a Nosso Senhor.

A Cristandade, servida por uma tradição venerável, em todos os tempos acreditou que eram reis. E essa tradição é de tal maneira contínua, que não deixa de ter alguma consonância com trechos da Escritura que falam de reis vindos de longe para adorar o Messias.
Essa tradição, de si mesma, merece fé, merece crença e eu não vejo nenhuma razão para que não fossem reis.

De qualquer maneira, temos aqui homens procedentes de várias raças, – um negro inclusive – representando todo o mundo antigo e representando toda a sabedoria  antiga  em sua  homenagem  a Nosso Senhor, na forma  bem conhecida, de ouro, incenso  e mirra.

Mas representando a que título e de que maneira? Quase ninguém soube que eles iam; não receberam nenhuma delegação para irem e, no entanto, estavam numa verdadeira representação. Porque a razão pela qual foram não era um motivo individual, mas era uma razão
de representação.

Eles estavam representando esses povos porque Nosso Senhor quis que eles representassem, e que foram lá porque Nosso Senhor os chamou como representantes.

Ele quis ter representantes desses povos, escolheu quem representaria e a representação ficou feita. E ficou valendo, com seu caráter simbólico, apesar de não haver nenhum sufrágio de nenhuma espécie ou nenhuma procuração credenciando-os aos pés de Nosso Senhor.

O fato de haver ali um de cada um desses povos, constituía, na ordem absoluta e profunda dos acontecimentos uma verdadeira representação. Eram só três, mas esses três representavam algo nos planos da Providência.

Encontramos algo de parecido com isso aos pés da Cruz. Como Nossa Senhora, São João e as santas mulheres estão representando tudo quanto há de bom e fiel, no passado, no presente e no futuro, aos pés da Cruz também.

Eles representam uma delegação, representam porque são fiéis, estão ao pé da Cruz. E todo aquele que é de um certo gênero, numa ocasião muito solene, representa naturalmente os seus congêneres por seleção.

Por isso eles estavam representando seus congêneres por seleção e eleição divina.

Hoje, aos pés da Igreja humilhada, Nossa Senhora quis que, embora poucos, os verdadeiros católicos representássemos a fidelidade das gerações passadas, presentes e futuras.

E nós podemos perguntar se desta verdade se pode tirar algo de aplicável para nós.
Nós também somos poucos, também representamos uma minoria muito pequena e de tal maneira comprimida que quando nos sentimos muitos, mas muitos apenas em relação ao âmbito normal das relações de um homem, nós já nos sentimos espantados, de tal maneira é antinatural na época de hoje que os verdadeiros católicos sejam numerosos.

Entretanto, representamos o dever da fidelidade; e aos pés da Igreja perseguida, aos pés da Igreja humilhada, aos pés da Igreja lançada, na pior das confusões de sua história, Nossa Senhora quis que representássemos a fidelidade, a pureza, a ortodoxia, a intrepidez, o espírito de iniciativa, de ataque, de ação, no momento em que tudo deveria falar  em recuo, em transigência, em  fuga.

O que representamos nós? Aos pés dessa nova crucifixão de Nosso Senhor e da Igreja representamos todos os fiéis, representamos a fidelidade de todos os que foram fiéis no passado, de todos aqueles que dormiram na paz do Senhor e que nos antecederam.

Se um São Gregório VII, se um São Luiz, se um São Luiz de Monfort, se um São Fernando de Castela, um Beato Nuno Álvares, pudesse de longe, ao morrer, saber que numa época assim de crise haveria fiéis que representariam a fidelidade inteira à Igreja Católica, eles nos teriam abençoado de longe, teriam se sentido nossos congêneres, de longe teriam sentido uma espécie de desafogo: ao menos estes estão fazendo o que eu quereria fazer se estivesse vivo naquele tempo.

Estamos, portanto, representando a todos eles, estamos representando a todas as almas fiéis esparsas e esmagadas por esse mundo e que não sabem aonde sequer pousar sua fidelidade, mas que gostariam de fazer o que estamos fazendo.

Estamos representando as almas que vierem depois de nós, essas almas que, olhando para trás, vão ficar entusiasmadas com aquilo que fazemos. Vão dizer: se estivéssemos vivos naquele tempo, faríamos aquilo.

Há essas interpenetrações na história, em virtude dessa doutrina da representação, algumas das quais são verdadeiramente impressionantes.

Quando São Remígio e se seus auxiliares ensinavam a Clóvis e seus francos a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, eles levantavam suas lanças e diziam: “Por quê não estávamos lá na hora da Paixão para defender Nosso Senhor?”
E eles estavam. Pois, na Paixão, Nosso Senhor anteviu o que eles queriam, anteviu que eles diriam isso. Eles O consolaram naquela hora.

Há, portanto, uma espécie de reversibilidade por cima do tempo, dessas várias ações, e tudo isso se funde numa cena única e grandiosa. Nessa cena única e grandiosa, os poucos fiéis dessa época representam toda a fidelidade passada, do presente e toda a fidelidade do futuro.

Por: Plínio Correa de Oliveira



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