COMO SERÁ O CULTO ESUCARÍSTICO DO SÉCULO XXI?

Recuperar o primitivo espírito da Igreja? De acordo. Mas conservando aquilo que a vem enriquecendo ao longo dos séculos, tanto em seus ensinamentos quanto em seus ritos.

Pe. Rafael Ibarguren Schindler, EP..jpgPe. Rafael Ibarguren Schindler, EP Assistente Eclesiástico da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.

A Igreja, Corpo Místico de Cristo formado pelo povo de Deus, é uma realidade viva, "sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e imaculada" (Ef 5, 27), apesar dos defeitos que tenham os seus membros.

Um organismo vivo em constante crescimento

Vivificada pelo Espírito Santo, ela atravessa os séculos em perene regeneração. Nada é mais contrário à verdade do que imaginá-la como uma espécie de paraíso ideal, composto por seres impecáveis, alheios à cotidianidade do mundo; ou então, como um museu repleto de veneráveis - ou desprezíveis... - peças de coleção que seriam seus dogmas e ritos. Estas são duas ideias correntes e erradas que costumam ter a respeito da Igreja seus inimigos e seus filhos tíbios.

Outro erro ou mal-entendido consiste em pensar que o seu modelo definitivo e acabado é o dos Atos dos Apóstolos, e que, portanto, dever-se-ia "refazer" a Igreja tal como existia nessas primeiras comunidades. Esta é uma simplificação irrealizável.

Recuperar o primitivo espírito da Igreja? De acordo. Mas conservando aquilo que a vem enriquecendo ao longo dos séculos, tanto em seus ensinamentos quanto em seus ritos. Pois, por ser um organismo vivo, ela produz vida e está em constante crescimento, como seu Divino Esposo, do qual afirma o Evangelista: "Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2, 52).

Da fração do Pão à Adoração Eucarística

Esse crescimento, podemos percebê-lo claramente no concernente ao culto eucarístico. Façamos aqui um breve resumo de seu desenvolvimento ao longo do tempo.

Nos dez primeiros séculos os fiéis sempre se reuniam para a fração do pão eucarístico, a Missa, e quase só nessa ocasião adoravam publicamente o Senhor Sacramentado. Finda a celebração, restava a reserva do Santíssimo a ser levada aos ausentes e aos enfermos.

Mas no segundo milênio começaram a desenvolver-se, na Igreja do Ocidente, de rito latino, as homenagens prestadas à Eucaristia.

No século XI foi progressivamente se transferindo da sacristia para o templo a reserva do Santíssimo Sacramento. No século seguinte nasceu a elevação, na Missa: mostra-se a Hóstia para os fiéis poderem adorá-La, saciando, assim, seu desejo de ver e de participar melhor do culto. No século XIII fizeram-se as primeiras procissões públicas com o Santíssimo Sacramento e se estabeleceu no calendário litúrgico a Festa de Corpus Christi.

No século XIV, em certos lugares da Europa, a Sagrada Hóstia começou a ser exposta num ostensório, para ser vista e adorada pelos fiéis, fora da Missa. E no século posterior teve início a celebração das Quarenta Horas, recordando o tempo passado pelo Senhor no sepulcro; eram realizadas por ocasiões de necessidade ou de ação de graças.

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Santo Antônio Maria Zaccaria promovendo as Quarenta Horas, por Virgilio Monti - greja de San Carlo ai Catinari, Roma

Durante o Renascimento (séculos XV e XVI), o Tabernáculo passou a ser colocado sobre o altar-mor, onde ficava no centro das atenções.

Toda essa exaltação da Eucaristia foi seguida por uma sólida explicitação doutrinária, dentro da qual desempenham papel saliente a teologia de São Tomás de Aquino e os documentos do Concílio de Trento.

Na Espanha, o culto público à Sagrada Eucaristia tomou novo vigor com as iniciativas de Teresa Enríquez (1450-1529) - a Louca do Sacramento -, que tiveram por fruto a multiplicação das confrarias de Adoração.

Já nas eras moderna e contemporânea se difundiu a prática das visitas regulares a Jesus Sacramentado, graças ao impulso dado por Santo Afonso de Ligório.

A graça da comunhão frequente

No século XIX ergueu-se na França a figura profética de São Pedro Julião Eymard, o qual está na origem da Adoração Eucarística com exposição e bênção solene, uma prática que acabou sendo adotada por todas as paróquias, congregações e movimentos eclesiais. Tiveram início também os congressos eucarísticos internacionais, que tomaram grande relevância na vida da Igreja, ao longo do século seguinte.

Nos primeiros anos do século XX, o Papa São Pio X publicou importantes documentos que abriram as portas para a Comunhão frequente e diária, bem como para a Comunhão precoce das crianças; essas duas novidades muito contribuíram para a comunidade cristã em particular e a sociedade em geral. Durante o longo pontificado do São João Paulo II veio à luz, em 2003, a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, que põe nitidamente o Sacramento do Altar na origem, coração e meta da vida da Igreja.

Duas décadas antes, já o Código de Direito Canônico, promulgado em 1983, franqueara a todo fiel leigo a possibilidade de comungar duas vezes ao dia, desde que a segunda Comunhão seja durante uma Missa da qual ele participe (Cân. 917). E pensar que há não muito tempo podia-se comungar apenas de vez em quando, só com autorização do confessor, e que algumas categorias de fiéis, como os comerciantes e as pessoas casadas, raramente tinham essa graça! Impossível seria relacionar aqui todas as manifestações do aumento da presença da Eucaristia na vida da Igreja. Sirva-nos este sucinto elenco para ver como ela é: uma Mãe generosa que cresce em dadivosidade para com seus filhos e os alimenta com o Divino Manjar.

Que nos reserva o século XXI como nova riqueza em relação à Eucaristia?

(Publicado originalmente como Mensagem do Assistente Eclesiástico, em www.opera-eucharistica.org)

Fonte: http://www.arautos.org/artigo/60378/Como-sera-o-culto-eucaristico-do-seculo-XXI-.html

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