AS RELÍQUIAS DE SÃO PEDRO

Por ocasião do solene encerramento do Ano Santo, a Cristandade venerou pela primeira vez na Praça de São Pedro os sacrossantos restos mortais do Príncipe dos Apóstolos. Como essa relíquia chegou até nós?

Diác. Antonio Jakoš Ilija, EP


Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não querias" (Jo 21, 18). ComSAO PEDRO_APOSTOLO.jpg essas palavras, Jesus Ressuscitado fazia antever ao teimoso e rude pescador da Galileia os sofrimentos que aguardavam o primeiro Papa.

"Quo vadis, Domine"

Lembrar-se-ia desse episódio o ancião Pedro quando, mais de 30 anos depois, fugindo de Roma por conselho de Lino e outros cristãos, se deparou na Via Ápia com o Divino Mestre?

"Quo vadis, Domine? - Para onde vais, Senhor?", perguntou Pedro. E Nosso Senhor respondeu- lhe estar a caminho de Roma para ser crucificado no lugar do Apóstolo... Compungido, o discípulo retorna imediatamente para Roma onde enfrentará heroicamente o martírio.1

Juízo, sentença condenatória, execução imediata; assim sucedem-se com rapidez os fatos. A pedido próprio, Pedro expira crucificado de cabeça para baixo por não se considerar digno de morrer como seu Divino Mestre. Retirado o corpo do patíbulo, um pequeno e temeroso cortejo acompanha os restos mortais do Pescador e lhes dá sepultura pressurosamente.

A execução ocorrera no Circo de Nero, situado ao pé do Mons Vaticanus, provavelmente no dia 13 de outubro de 64. O local do enterro não distava muito dali, pois era costume sepultar os justiçados o mais perto possível do local do suplício. Além do mais, o temor de represálias levou-os a fazê-lo num túmulo discreto, que não chamasse a atenção de eventuais profanadores.

Constantino erige uma Basílica

O monte Vaticano, que não faz parte das sete colinas de Roma, estava naquele tempo fora dos limites da cidade. Só muito posteriormente, no século IX, a Urbe englobou aquela região situada na margem oposta do Tibre. À época, ela albergava apenas o mencionado circo, cuja construção fora iniciada por Calígula e finalizada por Nero, que lhe deu o nome, e uma necrópole, pois os cemitérios não podiam, segundo a legislação romana, ser construídos dentro das cidades.

Nas primeiras épocas do Cristianismo, o local onde São Pedro fora enterrado era geralmente conhecido como o túmulo de São Pedro e São Paulo. Mas já no século IV, terminado o período de perseguições, Constantino mandou aterrar a necrópole, com a finalidade de edificar sobre ela uma igreja dedicada ao Príncipe dos Apóstolos. Era um edifício imponente, algo menor do que a atual Basílica, cuja construção teve início em abril de 1506, sendo consagrada mais de um século depois pelo Papa Urbano VIII, no dia 18 de novembro de 1626.

Para esse momento, tantas tinham sido as vicissitudes pelas quais passara a Cristandade, que a localização exata do túmulo se perdera, ficando apenas uma lembrança genérica de sua existência.

No ano da consagração da nova Basílica, os trabalhos para fundamentar o Altar da Confissão de Bernini levaram à descoberta de parte da antiga necrópole, confirmando parcialmente a imemorial tradição. Mas as técnicas da época não permitiam escavar embaixo de um edifício daquelas características sem comprometer sua estabilidade. Foi preciso esperar...

O túmulo é descoberto... mas vazio

Os avanços técnicos do século XX propiciaram que, na década de 1930, uma equipe de especialistas dirigida por Mons. Ludwig Kaas desse início a novas escavações. Os trabalhos prolongaram-se ao longo da década de 1940, e no Ano Santo de 1950, na sua mensagem de Natal o Papa Pio XII anunciou oficialmente o resultado: uma edícula que tudo indicava ser o túmulo de São Pedro havia sido descoberta, mas os ossos do Apóstolo não estavam nela.

Cristo aparece a Sao Pedro Quo Vadis_Museo de Navarra - Pamplona.jpg

Lembrar-se-ia desse episódio
o ancião Pedro quando, fugindo de Roma,
se deparou com o Divino Mestre?

"Quo vadis" - Museu da Navarra,
Pamplona (Espanha)

Três anos mais tarde, eles seriam por fim encontrados, ocultos numa parede lateral. Novos dados afloraram consolidando as pesquisas anteriores no sentido de ser esse realmente o túmulo do Príncipe dos Apóstolos. Particularmente importantes nesse momento foram os trabalhos de uma equipe chefiada pela criptógrafa Margherita Guarducci, que decifrou no lugar das escavações uma antiquíssima inscrição em grego: "Pedro está aqui".

Os fragmentos de ossos achados, oito no total, estavam envoltos num preciosíssimo pano de púrpura e ouro. Depois de meticulosas investigações, revelaram ter pertencido a um homem ancião, entre 60 e 70 anos de idade, que tinha vivido a maior parte de sua vida na Galileia, e nas proximidades do Lago de Tiberíades.

Encontradas e identificadas as relíquias de São Pedro

No dia 26 de junho de 1968 o Papa Paulo VI anunciou por fim à Cristandade que as relíquias de São Pedro haviam sido identificadas: "Foram encontrados os sacrossantos restos mortais do Príncipe dos Apóstolos, daquele que foi eleito pelo Senhor fundamento de sua Igreja e a quem o Senhor confiou as sumas chaves do seu Reino, com a missão de pastorear e reunir o seu rebanho, a humanidade redimida, até o seu retorno final glorioso".

E os que puderam venerar os ossos do Príncipe dos Apóstolos tiveram a impressão de que daquelas relíquias ecoavam, transcorridos dois milênios, as palavras ditas por Jesus: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16, 18).

1 O fato está narrado nos "Atos de Pedro", um dos mais antigos apócrifos, escrito em grego na segunda metade do século II. Santo Ambrósio, já no século IV, também faz referência a ele no seu Sermo contra Auxentium de Basilicis Tradendis (ML 16, 1011).

Por: Diác. Antonio Jakoš Ilija, EP - 2014/01/21

Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2014, n. 145, p. 24-25

Fonte: http://www.arautos.org/artigo/55230/As-reliquias-de-Sao-Pedro.html

Comentários

Postagens mais visitadas