A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E A GRANDE PROMESSA - Terceira Parte

CONTINUAÇÃO…

III. O espírito da Devoção de Reparação:

A Revelação do dia 29 de Maio de 1930
         A Irmã Lúcia estava em Tuy nessa época. O seu confessor, o Padre Gonçalves, tinha-lhe feito uma série de perguntas por escrito. Lembramos aqui só a quarta: "Porque hão de ser cinco sábados – perguntou ele – e não nove, ou sete em honra das Dores de Nossa Senhora?" Nessa mesma noite, a vidente implorou a Nosso Senhor que a inspirasse com uma resposta a essas perguntas. Poucos dias depois, ela enviou o seguinte ao seu confessor.
         "Ficando na capela, com Nosso Senhor, parte da noite do dia 29 para 30 deste mês de Maio de 1930 (sabemos que era seu costume ter uma hora santa das onze à meia-noite, especialmente às quintas-feiras, segundo os pedidos do Sagrado Coração de Jesus em Paray-le-Monial), e falando a Nosso Senhor das duas perguntas, quarta e quinta, senti-me, de repente, possuída mais intimamente da Sua Divina Presença. E, se não me engano, foi-me revelado o seguinte:
‘Minha filha, o motivo é simples: são cinco as espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria:

1.      As blasfêmias contra a Imaculada Conceição;

2.      As blasfêmias contra a Sua Virgindade;

3.      As blasfêmias contra a Maternidade Divina, recusando, ao mesmo tempo, recebê-La como Mãe dos homens;

4.      Os que procuram publicamente infundir, no coração das crianças, a indiferença, o desprezo e até o ódio para com esta Imaculada Mãe;

5.      Os que A ultrajam diretamente nas Suas sagradas imagens.

Eis, Minha filha, o motivo pelo qual o Imaculado Coração de Maria Me levou a pedir esta pequena reparação ...’

Os espinhos do Imaculado Coração de Maria
         Sigamos neste ponto o Padre Alonso que, no seu estudo sobre a Mensagem de Ponte vedra, faz um extenso e útil comentário sobre as cinco ofensas contra o Imaculado Coração de Maria enumeradas por Nosso Senhor.
A Irmã Lúcia de Fátima conta a Visão do Inferno da maneira seguinte: "Vimos como que um mar de fogo. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhantes ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero, que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Esta vista foi um momento. E graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição). Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. (Nossa Senhora disse) 'Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no Mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração.' "


As blasfêmias de homens hereges, cismáticos e ímpios
         Cegos por um ecumenismo enganador, houve a tendência, a partir de 1962, de esquecer que existe uma verdade evidente, relembrada aqui pela Mensagem de Fátima: aqueles que, obstinadamente e com pleno conhecimento, negam abertamente as prerrogativas da Santíssima Virgem Maria, cometem as blasfêmias mais odiosas respeitante a Ela.

          Primeira blasfêmia: Contra a Imaculada Conceição. O Padre Alonso pergunta: "Quem são aqueles que podem cometer esta ofensa contra o Imaculado Coração de Maria?" A resposta não deixa dúvida: "Em primeiro lugar e em geral, as seitas protestantes que recusam receber o dogma definido pelo Papa Pio IX e que continuam a sustentar que a Santíssima Virgem foi concebida com a mancha do pecado original e, ainda, de pecados pessoais. O mesmo poderia dizer-se dos cristãos orientais (dissidentes), já que, apesar da sua grande devoção Mariana, também recusam este dogma".

         Segunda blasfêmia: Embora os Ortodoxos a admitam, a maioria dos Protestantes também recusa a Virgindade perfeita e perpétua de Maria "antes, durante, e depois de dar à luz".

         Terceira blasfêmia: Embora, teoricamente, eles aceitem a Maternidade Divina de Maria definida no Concílio de Éfeso, negam-se a reconhecê-La como a Mãe dos homens no sentido católico, o que implica a negação do Seu papel como Co-redentora e Mediadora de Graça.

         Quarta blasfêmia: Refere-se à perversão das crianças pelos inimigos de Nossa Senhora, que tratam de lhes inculcar indiferença, desprezo ou mesmo ódio para com a Virgem Imaculada; e a quinta blasfêmia, pela qual A ultrajam nas Suas imagens sagradas. Estes dois últimos pecados não são mais do que a consequência lógica dos três primeiros, e estão frequentemente unidos a eles. A iconoclastia – ou, pelo menos, a recusa obstinada da teologia católica em relação às imagens sagradas – está muito longe de desaparecer.

         Em resumo: durante três séculos e meio a contra-igreja tem travado uma luta furiosa e sem descanso contra a Imaculada Virgem Maria, contra a promoção da devoção para com Ela, contra a Sua soberania nos corações e, sobre todas as sociedades. Seguindo os passos do protestantismo – depois do jansenismo e do seu frio desprezo por uma verdadeira devoção à Santíssima Virgem, do racionalismo dos séculos XVIII e XIX, assim como do modernismo do século XX –, essas forças contrárias continuam a atacar a doutrina e devoção Marianas com o mesmo desprezo e perfídia. Por fim, é sabido o modo como o comunismo bolchevique tentou, por todos os meios possíveis, destruir a veneração profunda da Mãe de Deus ancorada na alma do povo russo. Os ícones sagrados tiveram de desaparecer, foram destruídos ou escondidos... e ainda estão à espera de melhores dias.
         As blasfêmias de filhos rebeldes e ingratos. Há, porém, algo mais grave, muitíssimo mais sério do que todas as ofensas de homens hereges, cismáticos, apóstatas e ímpios. São as blasfêmias dos próprios filhos da Igreja contra o Imaculado Coração de Maria. Com o passar do tempo, a mensagem de Ponte vedra parece assombrosamente profética.
         O Padre Ricardo, diretor do Exército Azul em França e que muito dificilmente poderia considerar-se suspeito de pessimismo abusivo, comenta a este respeito: "Quem poderia ter imaginado, há 50 anos atrás, que estas cinco grandes ofensas contra Maria se estenderiam no seio do clero da própria Igreja Católica, e que um grande número de batizados e catequizados, até mesmo nas nossas paróquias, não sabe já rezar a ‘Ave-Maria’?" O Padre Alonso viu-se na obrigação de fazer observações semelhantes.
         Esta situação é hoje tão visível que qualquer comentário é supérfluo. Há certos teólogos, certos sacerdotes e certos bispos que são culpados das cinco blasfêmias! Não são só uns poucos casos excepcionais; são centenas e talvez milhares. Não basta fazer uma observação sobre o fato. Temos de descobrir as causas disto, e explicar como foi possível chegarmos a tal ponto. Pelo menos o Padre Alonso descreveu o acontecimento com exatidão:"A grande ‘era Mariana’, inaugurada em 1854 com a definição do dogma da Imaculada Conceição – atreve-se ele a escrever – terminou com o Concílio Vaticano Segundo.34 Mas como aconteceu isto? E porquê esta declinação alarmante da devoção Mariana, que ainda estava em pleno florescimento quando morreu o Papa Pio XII? É o que teremos de examinar depois, no contexto do Terceiro Segredo.
         Mas podemos desde já comentar que o elemento primeiro da Mensagem de Fátima é a Fé – uma fé precisa e dogmática. Uma devoção verdadeira à Santíssima Virgem pressupõe, sempre e necessariamente, ter fé nos Seus privilégios e prerrogativas, infalivelmente definidos pelo Papa ou ensinados pelo magistério da Igreja, e unanimemente acreditados pelos fiéis através dos séculos. É também certo que os pecados mais graves contra a Santíssima Virgem são, primeiro que tudo, pecados contra a Fé. Esta importante leitura dos fatos deve ter-se sempre em mente.

A Devoção de Reparação: um segredo de misericórdia para com os pecadores
         Depois de enumerar as cinco blasfêmias que ofendem gravemente a Sua Mãe Santíssima, Nosso Senhor deu à Irmã Lúcia a explicação decisiva que nos permite penetrar no segredo do Seu Imaculado Coração, transbordante de misericórdia para com todos os pecadores, até mesmo para com aqueles que A desprezam e ultrajam:
"Eis, Minha filha, o motivo pelo qual o Imaculado Coração de Maria Me levou a pedir esta pequena reparação e, em atenção a ela, mover a Minha misericórdia ao perdão para com essas almas que tiveram a desgraça de A ofender. Quanto a ti, procura sem cessar, com as tuas orações e sacrifícios, mover-Me à misericórdia para com essas pobres almas."
        "O pecado contra o Espírito Santo". Aqui temos um dos temas principais da Mensagem de Fátima. Uma vez que Deus decidiu manifestar cada vez mais o Seu grande desígnio de amor — que consiste em conceder aos homens todas as graças, através da mediação da Virgem Imaculada — parece que a recusa dos homens em se submeterem com docilidade à vontade de Deus assim expressa é a falta que mais gravemente fere o Seu Coração, que já não encontra em Si próprio nenhuma inclinação para perdoar. Parece um pecado sem perdão, porque para o Nosso Salvador não há crime mais imperdoável que o de desprezar a Sua Mãe Santíssima e o de "ultrajar o Seu Imaculado Coração, que é o Santuário do Espírito Santo. Isto é cometer ‘a blasfêmia contra o Espírito Santo, que não será perdoada neste mundo nem no outro’."
         Em 1929, na aparição de Tuy – que é o cumprimento final de Fátima –, Nossa Senhora conclui a manifestação extraordinária da Santíssima Trindade com estas palavras surpreendentes: "São tantas as almas que a Justiça de Deus condena, por pecados contra Mim cometidos, que venho pedir reparação. Sacrifica-te por esta intenção e ora". Estas palavras são tão fortes que vários tradutores tomaram a liberdade de diluir o seu significado.
         "Um pequeno ato de reparação" para salvar os maiores pecadores. Sim, Nossa Senhora afirma tristemente que muitas almas se perdem por causa do seu desprezo e das blasfêmias contra Ela ... Assim, e para nos dar o exemplo de amar os nossos inimigos, Ela própria intervém, porque só Ela pode ainda salvar esses monstros de orgulho e ingratidão que se revoltaram contra Ela. Como "Mãe de Misericórdia e Mãe do Perdão", como cantamos na Salve Mater, Ela intercede por nós ante Seu Filho. Que a devoção filial de almas fiéis e as Comunhões reparadoras oferecidas nos Cinco Primeiros Sábados possam consolar o Seu ultrajado Coração, e ser aceites por Jesus como reparação pelos crimes dos pecadores. Nossa Senhora ora para que Ele se digne aceitar esta "pequena devoção" e assim, tendo em conta este "pequeno ato de reparação" ao Seu Coração Imaculado, se digne conceder o perdão, apesar de tudo, aos ingratos e blasfemos, a todas as pobres almas que tiveram a ousadia de A ofender — a Ela, Sua Mãe Santíssima!
         E, como sempre, Nosso Senhor concede-Lhe o Seu desejo. Deste modo, Ele faz com que a Devoção da Reparação seja um meio seguro e eficaz de converter almas, muitas almas, de entre aquelas que estão em maior perigo de se perderem para sempre. Devemos citar aqui um texto importante, no qual até a "grande promessa" é uma consideração secundária, perante a intenção primeira do Imaculado Coração de Maria que é a salvação de todos os pecadores. Em Maio de 1930, a Irmã Lúcia escreveu ao Padre Gonçalves:
         "Parece-me que o nosso bom Deus, no fundo do meu coração, insta comigo para que peça ao Santo Padre a aprovação da devoção reparadora que o próprio Deus e a Santíssima Virgem se dignaram pedir em 1925, para, em atenção a esta pequena devoção, dar a graça do perdão às almas que tiveram a desgraça de ofender o Imaculado Coração de Maria,prometendo a Santíssima Virgem, às almas que deste modo A queiram reparar, assistir-lhes, à hora da morte, com todas as graças necessárias para se salvarem."
         Reparação necessária. A salvação das almas, de todas as almas – "principalmente as que mais precisarem" –, arrebatando-as a todas do fogo do inferno que as ameaça é, portanto, em última análise, a intenção principal da prática dos Primeiros Sábados do mês. Foi essa mesma intenção que Nossa Senhora já tinha indicado no dia 19 de Agosto de 1917, quando recomendou aos pastorzinhos a urgência de rezarem e fazerem sacrifícios: "Rezai, rezai muito; e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas".
         A Santíssima Virgem Maria foi chamada Mediadora universal e Mãe da Divina Graça. Mas por um desígnio da Providência que nos manda estar unidos a Ela, Nossa Senhora não pode agir sozinha. Ela precisa de nós, do nosso amor consolador e das nossas "pequenas devoções" de reparação, para salvar as almas do Inferno. Excelso e grandioso é o mistério da comunhão dos santos, que faz com que a salvação de muitas almas dependa, realmente, da nossa própria generosidade! E temos um bom motivo para demonstrarmos generosidade! Como poderíamos recusar esta ação missionária que Nossa Senhora espera de nós, que Ela fez tão fácil de cumprir – com autorização de um sacerdote, tudo se pode transferir para Domingo –, e quando as práticas requeridas são tão eficazes e fecundas? É que, através desta devoção, muitas almas em perigo iminente de se perderem para sempre podem obter, no último momento e apesar delas próprias, a graça da sua conversão.
          Para consolar o Imaculado Coração de Maria trespassado de espinhos, para fazer reparação pelos ultrajes que o Seu Coração recebe dos pecadores por meio da oração e do sacrifício – é este o requisito mais preciso desta primeira parte do Segredo, que Nossa Senhora veio lembrar e clarificar em Ponte vedra, em 1925: "Tu, ao menos, vê de Me consolar". O Santo Sacrifício da Missa e a Sagrada Comunhão oferecidos a Deus com o espírito de reparação são-nos agora apontados como o sacrifício mais perfeito e a oração mais eficaz.
         Tudo isto nos ajuda a entender a insistência urgente de Nossa Senhora, o Seu ardente desejo de que esta Devoção de Reparação seja praticada por toda a parte e com a maior frequência possível. Esta é a devoção mais apreciada por Ela, porque é a mais perfeita e, por isso, a mais eficaz para a salvação das almas. E porque a Santíssima Virgem deseja a nossa cooperação a todo o custo, associou a esta devoção as promessas mais maravilhosas...

        "Desta devoção depende a guerra ou a paz do Mundo". Com efeito, para além da conversão dos pecadores e da nossa salvação eterna, Nossa Senhora determinou que a Comunhão reparadora ficasse unida a outra promessa magnífica: o dom da Paz.
 

          A 19 de Março de 1939, a Irmã Lúcia escrevia:

       "Da prática desta devoção, unida à consagração ao Coração Imaculado de Maria, depende a guerra ou a paz do Mundo. Por isso eu desejava tanto a sua propagação, e, sobretudo, por ser essa a vontade do nosso bom Deus e da nossa tão querida Mãe de Céu ..."

            E no dia 20 de Junho do mesmo ano:

         "Nossa Senhora prometeu adiar para mais tarde o flagelo da guerra, se for propagada e praticada esta devoção. Vemo-La afastando esse castigo à medida que se vão fazendo esforços para a propagar; mas eu tenho medo que nós possamos fazer mais do que fazemos e que Deus, pouco contente, levante o braço da Sua Misericórdia e deixe o mundo assolar-se com esse castigo, que será como nunca houve, horrível, horrível."

         Dois meses depois, era declarada guerra. Ainda nada se tinha feito para corresponder aos pedidos do Céu.

"Quero em toda a Minha Igreja ...

pôr, ao lado da devoção do Meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração."

... Jesus à Irmã Lúcia

Do Primeiro Segredo ao Segundo

         Este anúncio profético leva-nos diretamente a uma tragédia. É a grande tragédia de caráter religioso e político que, em vinte anos, levou a nossa Europa cristã a uma guerra atroz, a mais mortífera de toda a história; e depois a outra, mais sangrenta e ainda mais horrível nas suas consequências devastadoras. Num curto espaço de tempo, esta guerra entregou nações e quase continentes inteiros à escravidão do barbarismo soviético. Vejamos agora a forma como Nossa Senhora profetizou esta terrível tragédia, identificando, a 13 de Julho de 1917, as suas fases mais importantes e as suas causas secretas. É esta a segunda parte do Seu grande Segredo.

O segredo capital:
o Imaculado Coração de Maria como salvação das almas. Clarifiquemos desde já que este "segundo segredo" depende estritamente do primeiro, cuja importância é primordial. Porque, como descobriremos na segunda parte do nosso estudo, a grande política divina revelada pela Rainha do Céu na Cova da Iria, tanto com as promessas de paz universal e durável, como com as ameaças de castigos espantosos — todo este plano de ação divina é só um instrumento utilizado pela Misericórdia de Deus para obter a salvação das almas, no maior número possível.
         Depois de tudo, é à primeira parte do Segredo que devemos regressar sempre, por ser, indiscutivelmente, a principal e a mais importante aos olhos de Deus: salvar as almas, todas as almas, do único verdadeiro mal — porque é o único mal eterno —, para as livrar a qualquer preço das chamas do Inferno. É esta também a primeira preocupação do Imaculado Coração de Maria. Em Fátima, a Senhora revelou este Imaculado Coração como refúgio e último recurso dos pecadores, mesmo dos mais odiosos e miseráveis, porque Ela é a Mediadora de Misericórdia, a Porta do Céu. Esta é a primeira parte do Seu grande segredo, porque é também o primeiro segredo do Seu Coração. A Irmã Lúcia descreveu o primeiro Segredo (a visão do Inferno) na sua Autobiografia, e continuou:
"Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a vista para Nossa Senhora, que nos disse, com bondade e tristeza:
‘Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no Mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração ...
‘... Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz ...
‘... virei pedir a comunhão reparadora nos primeiros sábados.’ "
         A pequena Jacinta entendeu perfeitamente esta importante advertência de Nossa Senhora para a salvação das almas. A sua alma ficou completamente penetrada por ela, como mostra o episódio seguinte: "às vezes – lembra a Irmã Lúcia –, andava a apanhar as flores do campo e a cantar, com uma música arranjada por ela naquele momento:
"Doce Coração de Maria, sede a minha salvação!
Imaculado Coração de Maria,
convertei os pecadores,
livrai as almas do Inferno!"
         Com efeito, são estas as palavras que resumem a essência do "primeiro Segredo": é através do Imaculado Coração de Maria que a Santíssima Trindade quer salvar hoje as nossas almas, todas as almas, para as arrebatar das chamas do Inferno e lhes abrir as portas do Céu.


A Irmã Lúcia explica a Devoção de Reparação dos Primeiros Sábados
         A Irmã Lúcia tomou esta "devoção amorosa" tanto a peito que constantemente volta a ela na sua correspondência. Não há nada mais capaz, sem dúvida, de tocar os nossos corações do que esta insistência da mensageira de Nossa Senhora. Aqui ficam alguns destes belos textos:
Nunca me sinto tão feliz como quando chega o primeiro sábado ..."
 

          No dia 1 de Novembro de 1927, Lúcia escreve à sua madrinha do crisma, Dona Maria Filomena Morais de Miranda:

         "Não sei se já tem conhecimento da devoção reparadora dos cinco sábados ao Imaculado Coração de Maria; mas como ainda é nova, lembrou-me de lha indicar, por ser uma coisa pedida pela nossa querida Mãe do Céu, e por Jesus ter manifestado desejo de que seja abraçada. Pareceu-me por isso que a Madrinha estimará muito não só de ter conhecimento dela, para dar a Jesus a consolação de a praticar, mas também de a fazer conhecer e abraçar por muitas outras pessoas.

"Consta no seguinte: durante cinco meses, no primeiro sábado, receber Jesus Sacramentado, rezar um Terço, fazer quinze minutos de companhia a Nossa Senhora meditando nos mistérios do Rosário1 e fazer uma confissão. Esta pode ser alguns dias antes e, se nesta confissão anterior nos esquecermos de formular a intenção, (requerida) podemos oferecer a confissão seguinte, contanto que no primeiro, sábado se receba a Sagrada Comunhão em estado de graça com o fim de reparar as ofensas que se proferem contra a Santíssima Virgem, e que trazem amargurado o Seu Imaculado Coração.
Parece-me, minha boa Madrinha, que somos felizes por poder dar à nossa querida Mãe do Céu esta prova de amor que sabemos deseja que se Lhe ofereça. Quanto a mim, confesso que nunca me sinto tão feliz como quando chega o primeiro sábado. E não é verdade que a nossa maior felicidade está em sermos todas de Jesus e Maria, em amá-Los a Eles só, sem reserva? Vemos isto tão claro na vida dos santos ... Eles eram felizes porque amavam, e nós, minha boa Madrinha, havemos de procurar amar como eles, não só para gozar a Jesus, que é o menos — se O não gozarmos cá, gozá-l’O-emos lá — mas para darmos a Jesus e a Maria a consolação de serem amados ... e que assim, em troca deste amor, salvassem muitas almas. Adeus, minha boa madrinha; abraço-a nos Corações Santíssimos de Jesus e Maria."

A 4 de Novembro de 1928, depois de várias tentativas para obter uma aprovação oficial do Bispo da Silva, a Irmã Lúcia escreve ao Padre Aparício:

"Espero, portanto, que o nosso bom Deus Se dignará inspirar a Sua Ex.cia Rv.ma uma resposta favorável, e que colherei, entre tantos espinhos, esta flor, vendo ainda na terra amado e consolado o maternal Coração da Santíssima Virgem. Agora é este o meu desejo, porque é também esta a vontade do bom Deus. A maior alegria que sinto é ver o Imaculado Coração da nossa terníssima Mãe conhecido, amado e consolado, por meio desta devoção".

         No dia 31 de Março de 1929, a Irmã Lúcia escreve de novo ao Padre Aparício, acerca do Cônego Formigão e do Padre Rodríguez que desejam pregar a Devoção Reparadora:
"Espero que o nosso Divino Jesus irá fazer de Suas Rv.cias, segundo o grande desejo que tem da propagação desta amável devoção, dois apóstolos ardentes da devoção reparadora ao Imaculado Coração de Maria. Não imagina V. Rv.cia como é grande a minha alegria em pensar na consolação que com esta devoção vão receber os Sagrados Corações de Jesus e de Maria, assim como a lembrança de um número imenso de almas que por meio desta amável devoção se vão salvar. Digo ‘que se vão salvar’, porque ainda não há muito tempo que o nosso bom Deus, na Sua infinita misericórdia, me pediu para procurar forma de fazer reparação com os meus sacrifícios e orações, e reparar de preferência o Imaculado Coração de Maria e suplicar, para as almas que contra Ele blasfemam, o perdão e a misericórdia, pois que a estas almas a Sua divina misericórdia não perdoa sem reparação ... "


"De que modo faço as meditações."
         Nesta devoção que é tão simples e fácil, a Irmã Lúcia escreve a sua mãe: "Os quinze minutos (de meditação) é o que me parece que lhe vai fazer mais confusão. Mas é muito fácil". Trata-se de "acompanhar a Nossa Senhora por quinze minutos"; e não é necessário, de modo algum, meditar sobre todos os quinze mistérios do Rosário: pode escolher-se um deles, ou dois. Numa carta citada pelo Padre Martins, a Irmã Lúcia escreve:
"De que modo faço as meditações sobre os mistérios do Rosário, nos primeiros sábados: primeiro mistério, a Anunciação do Anjo S. Gabriel a Nossa Senhora. 1.º Prelúdio: representar esse fato no meu espírito e ouvir o Anjo a saudar Nossa Senhora com estas palavras ‘Ave, Maria, cheia de graça!’.
2.º Prelúdio: pedir a Nossa Senhora que infunda na minha alma um profundo sentimento de humildade.
"1.º Ponto: Meditarei no modo como o Céu proclama a Santíssima Virgem cheia de graça, bendita entre todas as mulheres e destinada a ser a Mãe de Deus.
"2.º Ponto: A humildade de Nossa Senhora, reconhecendo-se e dizendo-se a escrava do Senhor.
"3.º Ponto: Como devo imitar Nossa Senhora na Sua humildade; quais as faltas de orgulho e soberba com que mais costumo desgostar a Nosso Senhor; e quais os meios que tenho de empregar para os evitar, etc.
"No segundo mês faço a meditação do segundo mistério gozoso; no terceiro mês, do terceiro, e assim sucessivamente, seguindo o mesmo método de meditação. Quando acabo estes Cinco Primeiros Sábados começo outros cinco, e medito sobre os mistérios dolorosos; depois, os gloriosos e, quando acabo estes, começo de novo com os mistérios gozosos".
         Desta forma, a Irmã Lúcia revela-nos que, sem se contentar só com uma prática dos Cinco Primeiros Sábados, ela pratica todos os meses "a amável Devoção Reparadora" pedida por Nossa Senhora. Como se trata de "consolar a Nossa Mãe do Céu" e de interceder eficazmente pela salvação das almas, porque não seguir o seu exemplo e renovar esta prática piedosa frequentemente? Poderíamos também pedir a esta boa Mãe, com a firme esperança de sermos escutados, a assistência especial à hora da morte, "com todas as graças necessárias para a salvação", para esta ou aquela alma que Lhe confiarmos – tal como Ela nos prometeu em troca desta "pequena devoção", cumprida com amor e com espírito de Reparação.

O que é Fátima?
         Fátima é a intervenção do Céu para nos salvar da perseguição, da guerra, da aniquilação, da escravidão e do Inferno.
         Fátima é uma visita de Maria, Nossa Mãe do Céu, na nossa época e para a nossa época. É uma Mensagem de afeto, um plano prático para a paz no mundo, uma promessa do Céu.
         É a intervenção do Céu para nos salvar de perseguições, martírios, guerras, escravidão ou aniquilação. É, sobretudo, uma maneira de salvar as nossas almas do Inferno. A Mensagem de Fátima é para si!
         Hoje, por disposição da divina Providência, Nossa Senhora convida-o a aprender toda a verdade sobre Fátima, ao dar-lhe esta oportunidade de conhecer a Sua bela Mensagem.
         A Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, apareceu seis vezes aos três pastorzinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, entre 13 de Maio e 13 de Outubro de 1917. Ela desceu à pequena aldeia de Fátima, que tinha permanecido fiel à Igreja Católica durante as perseguições do Governo de então.

A Mensagem de Nossa Senhora
        Senhora trouxe uma mensagem de Deus para cada homem, mulher ou criança do nosso século. Nossa Senhora de Fátima prometeu que o mundo inteiro teria paz e que muitas almas iriam para o Céu, se escutássemos e obedecêssemos aos Seus pedidos.
         Disse-nos que a guerra é um castigo pelo pecado; que Deus castigaria o mundo – na nossa época – pelos seus pecados, por meio da guerra, fome, perseguição à Igreja e ao Santo Padre, o Papa, a menos que escutássemos e obedecêssemos aos mandados de Deus.

Fátima Hoje!
         Em Fátima, o Papa João Paulo II disse a 13 de Maio de 1982: "a Mensagem de Fátima é mais pertinente e mais urgente" hoje do que quando Nossa Senhora apareceu pela primeira vez: é uma súplica angustiada da Nossa Mãe do Céu que nos vê em grande perigo, e que vem oferecer a Sua ajuda e o Seu conselho. A mensagem que traz é também uma profecia: uma indicação clara do que ia acontecer no século XX, e do que ainda irá infalivelmente acontecer num futuro próximo – tudo dependendo da nossa resposta aos Seus pedidos.

A Igreja dá a sua aprovação a Fátima
         A Igreja Católica ratificou a Mensagem de Fátima desde 1930. Cinco Papas deram publicamente a conhecer a sua aprovação às aparições de Nossa Senhora em Fátima e à Sua mensagem. Dois Papas foram a Fátima em peregrinação. O Papa João Paulo II foi lá duas vezes: uma, a 13 de Maio de 1982; e outra, a 13 de Maio de 1991.

O próprio Deus dá a Sua ratificação a Fátima
         Como um grande sinal de que a totalidade desta mensagem vem, na verdade, de Deus, houve um milagre maravilhoso no Céu de Fátima, perante 70.000 testemunhas, no dia 13 de Outubro de 1917, na hora, data e lugar que Lúcia e as outras duas crianças tinham indicado em nome de Nossa Senhora de Fátima.
         Tal como Nossa Senhora tinha dito, Francisco e Jacinta morreram em cheiro de santidade, em 1919 e 1920. Lúcia fez-se freira Carmelita. A Irmã Lúcia ainda vive: tem hoje 94 anos.
         E Nossa Senhora de Fátima continua hoje a fazer milagres, através da ‘água de Fátima’ que dali é enviada para todo o mundo. Brotou água em Fátima, na Cova da Iria, muito perto do lugar onde Nossa Senhora apareceu (na Cova da Iria) no lugar onde o Senhor Bispo disse para cavarem. E também há pessoas que se curam das suas doenças ao fazerem uma peregrinação a Fátima – que fica em Portugal, a uns 140 quilômetros a norte de Lisboa.
         Quando esteve em Fátima, o Papa João Paulo II disse: "A Mensagem de Fátima é dirigida a todos os seres humanos".

Uma mensagem de advertência e de esperança
         Se não fizermos caso a breve tempo, a tremenda profecia de Nossa Senhora pode cumprir-se num futuro próximo, e atingir-nos na proximidade das nossas casas.
         Ela disse que Deus tinha querido usar a Rússia como instrumento de castigo para o mundo inteiro, se não obtivéssemos a conversão da Rússia à Fé Católica por meio de orações e sacrifícios, e da obediência aos Seus pedidos (especialmente aos de consagração e reparação).
         Ela prometeu-nos: "Se atenderem aos Meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz".
         Mas também nos advertiu: "Se não, espalhará os seus erros pelo mundo; haverá guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas."
         E disse também que todo o mundo (a parte que escapar) será escravizado pelos tiranos ateus da Rússia.

Pela paz no mundo
         Para evitar estes castigos, disse Nossa Senhora que era necessário fazer reparação especial pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria, sobretudo através da Comunhão reparadora no Primeiro Sábado de cinco meses seguidos, e da solene Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria – feita, no mesmo dia e à mesma hora, pelo Papa e por todos os Bispos Católicos do mundo.

Por fim, Nossa Senhora triunfará
         Em conclusão: a Mensagem é uma promessa do triunfo final do Seu Imaculado Coração sobre o mal. Ela prometeu que, apesar do muito que o futuro possa ser difícil (e parece que esta é a via hoje escolhida por quase toda a humanidade...), por fim o Imaculado Coração de Maria triunfará: a humanidade terá, finalmente, cumprindo os Seus pedidos, e haverá paz no mundo.


O que devo eu fazer?
         É responsabilidade de cada um de nós ouvir, ler, aprender, e aplicar esta mensagem do Céu à nossa vida, em especial pela reza diária do Terço. Devemos também fazer todo o possível para, naquilo que pudermos, ajudar a divulgar o verdadeiro significado da Mensagem de Fátima, antes que seja tarde demais. Não devemos ficar passivos! Temos a promessa do Seu triunfo final, e sabemos que esse triunfo depende da nossa cooperação à Graça de Deus e ao Seu plano, dado a conhecer em Fátima.
Continua:…

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