A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E A GRANDE PROMESSA - Segunda Parte

CONTINUAÇÃO…

II. A grande promessa e as suas condições

         O mais assombroso de Ponte vedra é, certamente, a incomparável promessa de Nossa Senhora: "A todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro Sábado...", cumprirem todas as condições pedidas, "Eu prometo assistir-lhes à hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação". Com generosidade ilimitada, a Santíssima Virgem promete aqui a maior, a mais sublime de todas as graças: a da perseverança final. Ora esta graça, ninguém a pode garantir para si próprio – nem com uma vida inteira de santidade, empregada em oração e sacrifício –, porque se trata de um dom puramente gratuito da Misericórdia Divina. E a promessa é sem nenhuma exclusão, limitação ou restrição: "A todos aqueles que... Eu lhes prometo...”.


1. O Primeiro Sábado de cinco meses seguidos

"Todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro Sábado..." Este primeiro requisito do Céu não contém nada de arbitrário, nem nada totalmente novo. Ajusta-se à tradição imemorial da piedade católica que, havendo dedicado as sextas-feiras para recordar a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e honrar o Seu Sacratíssimo Coração, acha perfeitamente natural dedicar os Sábados à Sua Mãe Santíssima. É esta tradição venerável que motivou a escolha do sábado.

         Porém, isto não diz o suficiente: se virmos mais de perto, o grande pedido de Ponte vedra aparece como a culminação feliz de um movimento completo de devoção. O que começou espontaneamente e foi mais tarde encorajado e codificado por Roma, não parece ser outra coisa senão a preparação providencial para o que estava para vir.

         Os quinze sábados em honra de Nossa Senhora do Santíssimo Rosário. "Durante muito tempo, os membros das várias Confrarias do Rosário tiveram o costume de dedicar quinze sábados seguidos à Rainha do Santíssimo Rosário, antes da Sua festa ou em alguma outra época do ano. Em cada um destes sábados, todos recebiam os sacramentos e realizavam exercícios piedosos em honra dos quinze mistérios do Rosário". Em 1889, o Papa Leão XIII concedeu a todos os fiéis uma indulgência plenária num destes quinze sábados. Em 1892, "concedeu também, àqueles que estavam legitimamente impedidos ao sábado, a possibilidade de realizar este exercício piedoso no Domingo, sem perder as indulgências".

         Os doze Primeiros Sábados do mês. Com São Pio X, a devoção dos primeiros sábados do mês foi aprovada oficialmente: "Todos os fiéis que, no primeiro sábado ou no primeiro domingo de doze meses seguidos, dedicarem algum tempo à oração vocal ou mental em honra da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem ganham, em cada um desses dias, uma indulgência plenária. As condições são: confissão, comunhão e oração pelas intenções do Soberano Pontífice".

                   A devoção reparadora dos Primeiros Sábados do mês. Por fim, a 13 de Junho de 1912, São Pio X concedeu novas indulgências a práticas que parece anteciparem exatamente os pedidos de Ponte vedra: "Para promover a devoção dos fiéis para com a Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, e para fazer reparação pelos ultrajes dos homens ímpios ao Seu Santíssimo Nome e aos Seus privilégios, São Pio X concedeu ao primeiro sábado de cada mês uma indulgência plenária, aplicável às almas do purgatório. As condições são: confissão, comunhão, oração pelas intenções do Soberano Pontífice e exercícios piedosos com o espírito de reparação, em honra da Virgem Imaculada". Exatamente cinco anos depois deste dia 13 de Junho de 1912, aconteceu em Fátima a grande manifestação do Imaculado Coração de Maria, "cercado de espinhos que O pareciam cravar". A Irmã Lúcia disse depois: "Nós compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que exigia reparação".

         A 13 de Novembro de 1920, o Papa Bento XV concedeu novas indulgências a esta mesma prática, quando realizada no primeiro sábado de oito meses seguidos.

         Uma devoção tradicional... Que maravilhoso é ver o Céu contente pela coroação dum grande movimento de piedade católica, sem fazer mais nada senão dar precisão às decisões de um Papa, sendo esse Papa São Pio X! Também a Santíssima Virgem tinha vindo a Lourdes, confirmar as declarações infalíveis do Papa Pio IX.

            Ora bem: ao pedir ao Papa a aprovação solene da Devoção de Reparação revelada em Ponte vedra, Nossa Senhora não estava realmente a pedir nada impossível. A Providência tinha preparado tudo tão bem que, em 1925 -1926 esta devoção concordava perfeitamente com uma série de decisões papais que foram precursoras e que "anunciavam" a devoção do Primeiro Sábado.

         ... E, no entanto, uma devoção novíssima... Apesar do que foi dito, encontramos novos elementos na mensagem de Ponte vedra! Em primeiro lugar, a concessão de excessos de generosidade que só o Céu pode ter a liberdade de conceder: no dia 10 de Dezembro, a Virgem Maria já não pede quinze, nem doze, nem sequer oito sábados a Ela dedicados; Ela bem sabe da nossa falta de constância e pede só cinco sábados – tantos como as dezenas do nosso Terço.

         Porém, é sobretudo a promessa unida a esta devoção que aumentou de um modo impressionante. Já não é um caso de indulgências (ou seja, a remissão do castigo por pecados já perdoados); trata-se, antes, de uma graça muito mais notável: a certeza de receber, à hora da morte, "todas as graças necessárias para a salvação". É difícil imaginar uma promessa mais maravilhosa, porque se refere ao êxito ou ao fracasso no "nossa única e mais importante tarefa: a da nossa salvação eterna".


  • 2. Confissão

             Já vimos que não é necessário confessar-se no primeiro sábado. Se há um impedimento qualquer, a confissão pode fazer-se ainda passados oito dias; mas deve fazer-se, pelo menos, uma confissão mensal. É claro que, tanto quanto possível, é preferível que a confissão se faça num dia próximo do primeiro sábado.

             O pensamento de fazer reparação ao Imaculado Coração de Maria deve estar igualmente presente. Desta maneira, diz o Padre Alonso: "A alma anexa ao motivo principal de arrependimento pelos nossos pecados – que será sempre a idéia de que o pecado é uma ofensa contra Deus que nos redimiu em Cristo – um outro motivo de arrependimento, que sem duvida terá uma influência benéfica: arrependimento pela ofensa feita ao Imaculado e Doloroso Coração da Virgem Maria".


    • 3. A Comunhão reparadora dos Primeiros Sábados
             A Comunhão reparadora é, decerto, o ato mais importante da Devoção de Reparação, e todos os outros atos se concentram em seu redor. Para entender o significado e importância desta devoção, devemos considerá-la em relação com a Comunhão milagrosa do Outono de 1916 que, graças às palavras do Anjo, já estava totalmente orientada para a idéia de Reparação.19 A Comunhão reparadora também deve relacionar-se com a Comunhão das nove Primeiras Sextas-Feiras de cada mês, pedido pelo Sagrado Coração de Jesus em Paray-le-Monial.
            Alguém poderia objetar: receber a Comunhão no primeiro sábado de cinco meses seguidos é quase impossível para muitos fiéis, que não têm Missa na sua paróquia nesse dia ... É essa mesma pergunta que o Padre Gonçalves, confessor de Lúcia, lhe faz numa carta de 29 de Maio de 1930:
             "E quem não puder cumprir com todas as condições no sábado, não satisfará com os domingos? Os que trabalham nas fazendas, por exemplo, não poderão com frequência, porque moram bastante longe...”.
             Nosso Senhor deu a resposta à Irmã Lúcia na noite de 29 para 30 de Maio de 1930:"Será igualmente aceite a prática desta devoção no domingo seguinte ao primeiro sábado, quando os Meus sacerdotes, por justos motivos, assim o concederem às almas."21 Nesse caso, não só a Comunhão, mas também a reza do Terço e a meditação sobre os mistérios se podem transferir para o domingo, por motivos justificados que os sacerdotes deverão avaliar. É fácil pedir essa autorização durante a confissão. Repare-se, de novo, no caráter católico e eclesial da Mensagem de Fátima: é aos Seus sacerdotes, e não à consciência individual, que Jesus dá a responsabilidade de outorgar esta concessão adicional.
             Depois de tantas concessões, quem poderia ainda argumentar que não pode cumprir os pedidos da Virgem Maria?

    • 4. Recitação do Terço
    Em cada uma das seis aparições em 1917, Nossa Senhora pediu que rezassem o Terço todos os dias. Como se trata de fazer reparação pelas ofensas cometidas contra o Imaculado Coração de Maria, que outra oração vocal Lhe poderia ser mais agradável?22

    • 5. A meditação de quinze minutos sobre os Quinze Mistérios do Rosário


             Para além do Terço, Nossa Senhora pede quinze minutos de meditação sobre os quinze mistérios do Rosário. Isto não significa, evidentemente, que seja preciso um quarto de hora para cada mistério! Não é necessário mais do que um quarto de hora no total! Também não é indispensável meditar cada mês sobre os quinze mistérios. Lúcia escreve ao Padre Gonçalves: "Fazer quinze minutos de companhia a Nossa Senhora, meditando nos mistérios do Rosário". À sua mãe, Maria Rosa, Lúcia escreveu essencialmente o mesmo, a 24 de Julho de 1927, sugerindo-lhe a meditação só sobre alguns dos mistérios, que podem escolher-se livremente:
             "Queria também que a mãe me desse a consolação de abraçar uma devoção que sei é do agrado de Deus, e que foi a nossa querida Mãe do Céu quem a pediu. Logo que tive conhecimento dela, desejei abraça-la e fazer com que todos os demais a abraçassem.
             Espero, portanto, que a mãe me responderá a dizer que a faz, e que vai procurar fazer com que todas essas pessoas que aí vão a abracem também. Não poderá nunca dar-me consolação maior do que esta.


    No dia 13 de Outubro de 1917 Nossa Senhora de Fátima mostrou o Seu Escapulário do Carmo, lembrando-nos solenemente a Sua promessa: "Receba este Escapulário: qualquer pessoa que morra com ele posto não sofrerá o fogo eterno. Será um sinal de salvação, uma proteção no perigo, e uma promessa de paz".
             Consta só em fazer o que vai escrito neste santinho. A confissão pode ser noutro dia, e os quinze minutos (de meditação) é o que me parece que lhe vai fazer mais confusão. Mas é muito fácil. Quem não pode pensar nos mistérios do Rosário? Na anunciação do Anjo e na humildade da nossa querida Mãe que, ao ver-Se tão exaltada, Se chama escrava? Na Paixão de Jesus, que tanto sofreu por nosso amor? Na nossa Mãe Santíssima junto de Jesus, no Calvário? Quem não pode assim, nestes santos pensamentos, passar quinze minutos junto da Mãe mais terna das mães?
             Adeus, minha querida mãe. Console assim a nossa Mãe do Céu, e procure que muitos outros A consolem também; e assim dar-me-á, também a mim, uma inexplicável alegria...
             "Sou sua filha muito dedicada, que lhe beija a mão."
             Nesta bela carta, a Irmã Lúcia insiste na sexta condição, que é a principal: cada uma destas devoções deve cumprir-se "com o espírito de reparação" para com o Imaculado Coração de Maria.
             "Console assim a nossa Mãe do Céu...”, escreveu ela.










    • 6. A intenção de fazer reparação: "Tu, ao menos, vê de Me consolar".

    Sem esta intenção geral, sem esta vontade de amor que quer fazer reparação a Nossa Senhora para A consolar, todas as práticas externas são, por si só, insuficientes para obter a magnífica promessa. Isto é claro.
             A prática da Comunhão reparadora deve ser atenta e fervorosa. Assim o explicou Nosso Senhor à Irmã Lúcia, na Sua aparição do dia 15 de Fevereiro de 1926: "É verdade, Minha filha, que muitas almas os começam (a prática dos quinze sábados) mas poucas os acabam; e as que os terminam, é com o fim de receberem as graças que aí são prometidas. Agrada-Me mais quem fizer os cinco (Primeiros Sábados) com fervor e com o fim de desagravar o Coração da tua Mãe do Céu, do que quem fizer os quinze, tíbio e indiferente ... " Nossa Senhora pede-nos tão pouco, precisamente para que possamos fazê-lo de todo o coração. Mas isso não significa que o faremos sempre com muito fervor sensível: segundo a grande máxima da espiritualidade, "Querer amar é amar".
             As breves palavras do Menino Jesus e de Nossa Senhora no dia 10 de Dezembro de 1925 dizem tudo, e fazem-nos compreender o verdadeiro espírito desta Devoção Reparadora:
    "Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões... sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar ... Tu, ao menos, vê de Me consolar".
             Esta imagem, que é tão expressiva, diz tudo: as blasfêmias e a ingratidão dos pecadores são como muitos espinhos cruéis que só podemos retirar por meio dos nossos atos de amor e de reparação. Porque o amor, ou "a compaixão", é a alma de todas estas práticas. Trata-se de consolar o Imaculado Coração da "Mãe mais terna", que se sente muito ultrajada.
             Lúcia compreendeu isto perfeitamente nesse mesmo momento. A parte final da sua carta a Monsenhor Pereira Lopes, onde descreve a aparição do Menino Jesus a 15 de Fevereiro de 1926, é disso um testemunho eloquente:
             “Nisto, desapareceu, sem que até hoje eu tenha sabido mais nada dos desejos do Céu”.
             E, quanto aos meus, (ele continua) são que nas almas se acenda a chama do amor divino e que, elevadas nesse amor, consolem muito o Sagrado Coração de Maria. Eu tenho, pelo menos, o desejo de consolar muito a minha querida Mãe do Céu, sofrendo muito por Seu amor".
             Deve prestar-se a devida atenção à originalidade desta mensagem. Porque aqui não há duvida, pelo menos na essência, de que se trata de consolar a Santíssima Virgem, tendo compaixão do Seu Coração trespassado pelos sofrimentos de Seu Filho. É certo que a Mensagem de Fátima pressupunha já este aspecto tradicional da piedade católica: a 13 de Outubro de 1917, Nossa Senhora das Sete Dores apareceu no céu aos pastorzinhos. Mas o significado mais preciso da Devoção Reparadora pedida em Ponte vedra não consiste tanto na meditação sobre os mistérios dolorosos do Rosário, como na consideração das ofensas que o Imaculado Coração de Maria recebe – agora – dos homens ingratos e blasfemos que recusam a Sua mediação maternal e desprezam as Suas prerrogativas divinas*. Tudo isto são muitos espinhos que devemos retirar do Seu Coração, por meio de práticas de amor e de reparação, para A consolar e, ainda, para obter o perdão para as almas que tiveram a audácia de A ofender tão gravemente.
             Nada pode ajudar-nos a entender melhor o verdadeiro espírito da Reparação pedida por Nossa Senhora de Fátima do que o relato de uma revelação importante feita à Irmã Lúcia no dia 29 de Maio de 1930.
     
    Continua:…

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