MAIO COM MARIA: Dia 23 - Maria é toda clemência e bondade
O autor dos Discursos sobre a Salve Rainha diz que
Maria é a terra prometida pelo Senhor, na qual manava leite e mel. Quer assim
mostrar-nos de modo bem intuitivo a grande bondade dessa Rainha para conosco,
miseráveis e deserdados. S. João acrescenta que Maria tem entranhas de tanta
misericórdia, que merece ser chamada não só misericordiosa, mas a própria
misericórdia. Por causa dos infelizes foi Maria constituída Mãe de Deus e
colocada para lhes dispensar misericórdia, ensina-nos S. Boaventura. Considera
em seguida a imensa solicitude que ela tem para todos os miseráveis, bem como a
sua grande bondade que acima de tudo deseja socorrer aos necessitados. Essa
consideração leva o Santo a dizer: Quando olho para vós, ó Maria, parece-me
não ver mais a divina justiça, mas a divina misericórdia somente, da qual estais
cheia. Em suma, tanta lhe é a piedade que, como diz o Abade Guerrico, seu
amoroso coração não pode cessar um momento de ser misericordioso
conosco.
E que outra coisa pode jorrar de uma fonte de
piedade, senão piedade? pergunta S. Bernardo. Por isso, Maria foi chamada “uma
bela oliveira no campo” (Eclo 24, 19). Como da oliveira só sai o óleo,
símbolo da misericórdia, também só graças e misericórdias destilam as mãos de
Maria.
Temos por conseguinte, muita razão, para, com Luís
da Ponte, chamá-la Mãe do óleo da misericórdia. Recorrendo, portanto, a essa Mãe
para pedir-lhe o óleo da sua piedade, não podemos temer que no-lo recuse, como o
negaram as virgens prudentes às loucas, dizendo-lhes: Para que não suceda
faltar-nos ele a nós e a vós. Não; porque ela é muito rica desse óleo de
piedade, previne Conrado de Saxônia. Eis a razão por que a Igreja lhe chama não
só de prudente, mas de prudentíssima. Por aí compreendamos, diz Hugo de S.
Vítor, que Maria é tão cheia de graça e de misericórdia, que tem como prover
a todos, sem nunca ficar desprevenida.
Mas pergunto eu: Por que se diz que esta formosa
oliveira está no meio do campo, e não antes no meio de um jardim bem murado?
Ouçamos a resposta do Cardeal Hugo: Para que possam facilmente contemplá-la e
alcançá-la todos os necessitados. S. Antonino confirma esse belo pensamento ao
dizer: Podem todos colher frutos de uma oliveira que está em campo aberto; e
assim podem também todos recorrer a Maria, pecadores e justos, para obterem
misericórdia. Quantos castigos, continua ele, quantas sentenças e
condenações, tem a Santíssima Virgem sabido revogar em benefício dos pecadores
que a ela recorrem! E que mais seguro refúgio, pergunta o piedoso Tomás de
Kempis, podemos encontrar que não o compassivo coração de Maria? Aí o pobre
acha abrigo, remédio o enfermo, alívio o aflito, consolo o atormentado e socorro
o abandonado.
Pobres de nós, sem essa Mãe de Misericórdia, tão
atenta e tão prestadia em socorrer nossas misérias! Onde não há mulher — diz o
Espírito Santo — geme e padece o enfermo (Eclo 36, 27). A mulher é justamente
Maria, conforme atesta S. João Damasceno. Sem ela só há sofrimentos para o
enfermo. Realmente, querendo Deus que todas as graças se dispensem pelos rogos
de Maria, onde eles faltam não haverá esperança de misericórdia. Tal foi a
revelação que o próprio Senhor fez a S. Brígida.
Tememos talvez que Maria não veja ou não queira
aliviar nossas misérias? Não: melhor do que nós, delas tem ciência e compaixão.
Cita-me um Santo que como Maria tanto se compadeça de nossas misérias! ordena
S. Antonino. Onde vê misérias, não lhe sofre o coração deixá-las sem alívio
de sua grande misericórdia. Essa sentença de Ricardo de S. Vítor é confirmada
por Mendoza: Ó Virgem bendita, dispensais às mãos cheias vossa misericórdia,
por toda parte onde descobris necessidades. E nossa boa Mãe nunca se cansa
nesse ofício de misericórdia, como ela mesma o confessa: E não deixarei de ser
em toda a sucessão das idades, e exercitei diante dele o meu ministério na
morada santa (Eclo 24, 14). O que assim comenta o Cardeal Hugo: Não deixarei até
ao fim do mundo de socorrer as misérias dos homens, e de rogar pelos pecadores,
para que sejam salvos da condenação eterna.
Do imperador Tito conta Suetônio que tinha muito
prazer em conceder as graças que se lhe pediam. No dia em que não tinha ocasião
de conceder alguma, lastimava- se, dizendo: Hoje foi um dia perdido para mim.
Tito assim falava, provavelmente, mais por vaidade ou por ambição de estima que
por verdadeira caridade. Nossa Rainha, porém, se possível lhe fosse passar um
dia sem dispensar algum favor, julgá-lo-ia perdido, tão grande é sua caridade, o
seu desejo de espalhar benefícios. E até afirma o B. Bernardino de Busti, ela
tem mais ânsia de nos fazer favores, do que nós temos desejo de os receber. Por
isso, continua o sobredito autor, sempre que a invocamos, a encontramos com as
mãos cheias de misericórdia e liberalidade .
Figura de Maria foi Rebeca que, ao pedir-lhe água
o servo de Abraão, respondeu que daria de beber não só a ele, mas também aos
seus camelos (Gn 24, 19). S. Bernardo, ponderando isso, volta-se para Maria e
lhe diz: Ó Senhora, da plenitude do vosso cântaro dai de beber não só ao servo
de Abraão, como aos seus camelos também. Com outras palavras quer o Santo dizer:
Ó Senhora, sois mais compassiva e liberal que Rebeca; não vos contentais em
dispensar as graças da vossa imensa misericórdia aos servos de Abraão, figura
dos que vos servem fielmente, mas quereis ainda concedê-las aos camelos que
representam os pecadores. Como Rebeca, dá Maria mais do que se lhe pede.Nisso
de liberalidade, diz Ricardo de S. Lourenço, tem a Mãe semelhança com o Filho,
que, na frase de S. Paulo, “é pródigo de graças para todos os que o invocam” (Rm
10, 12). Como acertou Guilherme de Paris ao exclamar: Senhora, rogai por
mim, porque vós pedireis com mais devoção do que eu, e me alcançareis assim de
Deus graças maiores do que quantas eu mesmo peça!
(Glórias de Maria – Santo Afonso Maria de Ligório)
Fonte: VAS HONORABILE
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