PARA A QUARESMA- Parte I

Leia esta importantíssima reflexão sobre a Crucifixão de Nosso Senhor



Rev. Pe. Adolphe Tanquerey
Jesus chega enfim ao Calvário…
Completamente esgotado, e do alto desta colina contempla a cidade culpada que acaba de rejeitá-lo, como também, além de seus muros, o mundo inteiro pelo qual ele vai morrer.

Os soldados o despojam de suas vestes, renovando assim todas as dores da flagelação: suas feridas se reabrem e seu sangue corre, para expiar a nossa falta de modéstia e nossa sensualidade.

Será que pensas nisso, ó cristão impenitente, que te permite tão facilmente tantas liberdades pecaminosas? Não vês o que elas custaram a teu Salvador?

És tu, que por falta de pudor renovas as suas dores. E, para agradar aos demais, para satisfazer tua vaidade e tua sensualidade, não te envergonhas do que fazes!

Contempla Jesus, a santidade mesma, escuta suas censuras, detesta teus pecados e promete expiá-los, tornando-te de agora em diante mais modesto e mais puro.

De resto, isso não é senão prelúdio das torturas que ele irá suportar até o fim, para expiar nossos pecados.

Pois eis a crucificação que começa com os seus horrores. Como mansa vítima, Jesus estende suas mãos e seus pés sobre a árvore da cruz: grossos cravos penetram em seus membros já tão sensíveis, sob os golpes repetidos do martelo que os faz penetrar à força através dos músculos, dos nervos, das veias.

Suplício terrível que, ao prolongar-se, agrava ainda mais as dores do crucificado, alargando as perfurações dos pés e das mãos!
E mais ainda no caso de Jesus, cuja cabeça, ainda coroada de espinhos, não podia apoiar-se sobre a cruz sem renovar tantas dores atrozes!

E no entanto o Salvador, longe de maldizer seus algozes, reza por sua conversão: “Meu Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Pois era o seu amor por nós que o pregava à cruz, muito mais do que os pregos cravados pelos soldados.

Assim, as dores mais agudas lhe vinham do ódio insaciável dos príncipes dos sacerdotes e dos membros do Sinédrio. Os criminosos geralmente recebem, em meio aos seus suplícios, algumas marcas de piedade e de respeito.

Não foi assim com Jesus: encarniçados em sua perda, seus inimigos passavam e repassavam diante de sua cruz, insultando a vítima: “Se ele é o filho de Deus, que desça agora da cruz, e nós creremos nele… Salvou os outros, e não pode salvar a si mesmo!… Ele confiou em Deus: que Deus o livre agora, se é que o ama, já que ele se diz Filho de Deus!” (Mt 27, 41-43).

Jesus teria podido descer da cruz para confundi-los. Mas seu amor por seu Pai, cuja vontade quer executar até o fim, e seu amor pelas almas que quer salvar a qualquer preço, o retêm na cruz; e ele repete em seu coração: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!”.

Essa oração iria ter um primeiro resultado: os dois ladrões crucificados ao lado de Jesus tinham começado por fazer eco aos insultos, e tinham gritado do alto de suas cruzes: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós!”.
Mas logo um deles, profundamente emocionado pela mansa resignação do divino Crucificado e por suas tocantes orações, volta-se para ele e, com confiança, dirige-lhe este pedido: “Senhor, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino”.

E o Salvador, embora não pudesse fazer um único movimento sem aumentar seus sofrimentos, volta-se por sua vez para o bom ladrão e responde-lhe: “Em verdade te digo, hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 42 – 43).

Palavra tocante, que bem nos mostra o quanto Jesus está sempre pronto a perdoar os pecadores arrependidos, desde que tenham confiança nele e desejem sinceramente reparar suas faltas!

A Mãe de todos os cristãos
Entretanto, a natureza quis chorar a agonia e a morte de seu autor. Em pleno dia (era cerca de meio dia), uma névoa sombria se eleva do solo e envolve a cruz como um véu fúnebre.

O medo se apodera da multidão e a afugenta: logo já não há mais ninguém ao pé da cruz. É então que um pequeno grupo de amigos pode se aproximar: Maria, a mãe de Jesus, sua irmã, a esposa de Cléofas, Madalena, a pecadora, e João, o discípulo amado.

Com que amor o Salvador abaixa o olhar sobre esses amigos que lhe vêm dizer um último adeus, e sobretudo sobre sua mãe, cujo coração amoroso está transpassado pela espada de dor predita por Simeão!

Não querendo deixá-la sozinha no mundo, ele a confia ao discípulo amado, dizendo: “Eis o teu filho!” E a João: “Eis a tua mãe!” Desde esse momento, o discípulo recebeu Maria em sua casa, e a considerou como sua mãe (Jo 19, 26 – 27).

Mas João representa aqui, todos os discípulos do Salvador, todos os cristãos do futuro.
Eles também gostarão de ter Maria como Mãe , e de compadecer-se de suas dores e consolá-la por sua afeição filial, sofrendo com ela e por suas intenções.


Fonte: retirado do livro “A Divinização do Sofrimento” do Rev. Pe. Adolphe Tanquerey.

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